GUERRA NA UCRÂNIA

Roger Waters responde carta à fã ucraniana: “Putin não é o único gângster”

Alina Mitrofanova, de 19 anos, cobrou posicionamento do músico, que teve avô e pai mortos, respectivamente, na primeira e segunda guerras mundiais

Roger Waters.Créditos: Divulgação
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O ex-Pink Floyd, Roger Waters, afirmou em resposta à carta de uma fã ucraniana que a intervenção militar de Vladimir Putin no seu país é criminosa. Mas ele não ficou só nisso e criticou também líderes ocidentais por abandonarem a diplomacia e distribuírem armas aos ucranianos. 

Alina Mitrofanova, de 19 anos, cobrou posicionamento público do baixista, que é militante pacifista e teve avô e pai mortos, respectivamente, na primeira e segunda guerras mundiais. 

“É impossível construir um muro nessa situação e ficar isolado do problema”, disse ela se referindo ao álbum “The Wall”, grande sucesso do Pink Floyd. A seguir, ela pediu: “Diga ao mundo a sua posição!”, afirmando estar 95% certa que ele não responderia.

Não é o único gangster

Waters reiterou as críticas dela a Putin, mas deixou claro que ele não é o único "gângster" da política e relembrou os bombardeios ilegais na Líbia e na Sérvia, realizados, segundo o músico, pela Otan, sob ordens dos ex-presidentes norte-americanos George Bush e Bill Clinton.

“Fiquei enojado com os gângsteres Bush e Blair quando invadiram o Iraque em 2003, fiquei e ainda estou enojado com o governo gângster da invasão da Palestina por Israel em 1967 e sua subsequente ocupação apartheid daquela terra que já dura mais de cinquenta anos”, respondeu.

Ele defendeu também que a responsabilidade pela escalada militar na Ucrânia deve ser compartilhada com outros líderes além de Putin. 

“Tenha certeza de que se todos os nossos líderes não recusarem a retórica e se envolverem em negociações diplomáticas, restará muito pouco da Ucrânia quando a luta terminar”, escreveu.

Leia na íntegra a carta de Alina Mitrofanova:

Olá!

Meu nome é Alina Mitrofanova, tenho 19 anos e moro na Ucrânia. Hoje meu país está resistindo à invasão russa e à verdadeira guerra iniciada pelo presidente russo e liderada pelo exército russo.

Sou um grande fã do Pink Floyd e do Roger Waters, e seria muito importante para mim ouvir a opinião do Roger sobre toda essa situação. Pode não parecer tão urgente e crítico, porque essa guerra pode ser considerada só "nosso problema", mas infelizmente rapidamente ela se torna uma catástrofe para toda a Europa e o mundo.

A guerra começou há 11 dias e todos os dias ouvimos sirenes que sinalizam bombas lançadas por ocupantes russos. A agressão da Rússia destrói o MEU país, mata centenas de adultos e crianças inocentes no MEU país, e não posso explicar quantos ucranianos são forçados a deixar suas casas e fugir dessa loucura. As cidades do leste ucraniano estão sendo destruídas pelo exército russo, centenas de milhares de pessoas estão sendo evacuadas e se tornando refugiadas, e seu número está aumentando a cada minuto. Estou com dor, como muitos outros ucranianos, porque dói muito ver como MEU país se torna um alvo militar para a Rússia e seu líder louco, que está convencido de que existem "neo-nazistas", que precisam ser mortos. É absolutamente falso, porque eu moro aqui e posso dizer 200% que lá não há pessoas assim!

Peço a Roger para falar publicamente sobre essa guerra, porque ainda não consigo entender como uma pessoa que escreveu uma quantidade significativa de letras anti-guerra ainda não falou sobre tragédia. Além disso, entendo perfeitamente que o ponto de vista de Roger pode ser diferente, mas peço que ele compartilhe sua opinião sobre essa guerra. É melhor do que apenas ficar em silêncio, porque nessa situação o silêncio é um dos piores inimigos - é impossível construir um muro nessa situação e ficar isolado desse problema.

Tenho 95% de certeza de que esta carta não será entregue diretamente ao Roger, e seria um milagre se eu tivesse uma resposta. No entanto, um homem que fala sobre os riscos de uma catástrofe nuclear e sobre a insensatez da guerra não pode ficar calado nessa situação. Diga ao mundo sua posição!

Atenciosamente da Ucrânia,

Alina Mitrofanova