O compositor e multiartista pernambucano Armando Lôbo lança no YouTube na próxima quarta-feira (30) seu segundo filme-ópera, intitulado “Último Dia”. Realizada pela CO.MO (Companhia de Micro-óperas), com recursos da Lei Aldir Blanc através da Secretaria Estadual de Cultura de Pernambuco, a obra de doze minutos é livremente inspirada em um episódio envolvendo um dos maiores compositores pernambucanos de frevo, Levino Ferreira.
O filme-ópera que une teatro, cinema, poesia, performance, música e dança, além de fazer referências a Nelson Rodrigues, Freud, Bakhtin, Bergman e Antero de Quental, comenta também um nebuloso e mistificado episódio de catalepsia na biografia do compositor, também chamado de “Mestre Vivo”.
Com música, roteiro/libreto, mixagem, edição e direção do próprio Armando Lôbo, a produção tem todo seu elenco baseado em Recife, destacando a presença do personagem do Zé Pereira, coreografado por Marcelo Sena, e que guarda uma semelhança proposital com a figura da morte, conforme retratada por Ingmar Bergman no clássico “O Sétimo Selo”.
O artista pernambucano Walmir Chagas (famoso pelo seu alter-ego “Véio Mangaba”) interpreta Levino Ferreira, e as carpideiras são vividas pelas cantoras líricas Natália Duarte, Virginia Cavalcanti e Surama Ramos. No enredo, três carpideiras, em um mundo paralelo, cantam e choram a morte de um mestre de cultura popular, produzindo um efeito catártico que resulta no acordar do defunto, que em verdade sofrera uma crise cataléptica.
A música da ópera tem características bastante plurais, estabelecendo diálogo entre técnicas eruditas contemporâneas (instrumentais e eletroacústicas) e a musicalidade popular nordestina, especialmente fazendo referências a frevos de Levino Ferreira.
Em forma de ópera-poesia, ou “poemópera” audiovisual, “Último Dia” discute de forma dramática e ácida o universo da cultura popular, a redenção, a carnavalização da morte. “O poeta é aquele que vive no outro mundo, o mundo verdadeiro. Mas, e se ele é convidado a permanecer neste mundo paralelo em que todos vivem? O propósito é mostrar o carnaval enquanto escatologia trágica e invertê-la numa anti-tragédia”, afirma o autor e conclui: “em verdade, a micro-ópera não é sobre a cultura pernambucana, é uma carnavalização funérea de Bergman”.