A cantora e compositora Bia Góes acaba de lançar nas plataformas digitais seu terceiro CD, “Nosso Chão”. Nele, a autora homenageia e saúda, em oito canções e com grande beleza, a brasilidade de diversos ritmos, as zuelas (cantigas) aprendidas no Candomblé Angola e a sua leitura do mundo.
Bia é cria de alguns dos melhores músicos do Brasil. Sua mãe é a pianista, arranjadora e compositora Silvia Góes. Seu pai é o multi-instrumentista, compositor e arranjador Arismar do Espírito Santo. Não bastasse isso, a cantora ainda tem na família o marido, o vibrafonista Ricardo Valverde, que faz a direção musical do álbum, e o irmão, o baixista Thiago Espírito Santo.
Seu caminho, portanto, como ela mesma diz, foi construído tendo como base a influência da música instrumental brasileira. O fato é que, cercada de músicos por todos os lados, ela construiu sua carreira fazendo, e muito bem, a canção popular.
Seus álbuns anteriores, os CDs “Bia Góes — Todo Mundo Quer Dançar Baião” (2013) e “3 em 3×4 — Um retrato da Valsa Brasileira (2011)”, Bia chegou a finalista do Prêmio da Música Brasileira (2014), como Melhor Cantora Regional, e do Prêmio Profissionais da Música (2016), como Melhor Cantora. Com estes discos, fez apresentações de lançamento no Brasil, Portugal e Itália.
Pra quem já conhece e acompanha os discos de Bia Góes, não se trata de nenhuma surpresa a tamanha beleza de “Nosso Chão”. A cantora parte de células simples, com canções originais que lembram em muito melodias tradicionais, interpretadas de maneira sofisticada.
Vale, e muito, chamar a atenção para a parte instrumental. Ao invés de optar por arranjos experimentais, já que dispunha de músicos excelentes para isso, o álbum é repleto de sons econômicos e muito bem executados.
Além do produtor Ricardo Valverde, seu parceiro de dez anos, que também toca vibrafone, o álbum “Nosso Chão” traz no contrabaixo: Thiago do Espírito Santo; Percussão: Cauê Silva e as participações especiais do poeta Griôt Sr Carlos de Assumpção, na faixa “Domingo”; Filó Machado, em “Moçambique” e o Grupo Kyloatala em “Guaracyewaba”.
Apesar de todo o cuidado com o som do álbum e a destreza dos músicos, Bia Góes consegue se impor e fazer mais um álbum próprio, repleto de personalidade. O timbre, a interpretação e as nuances da sua voz, aliados às belas composições, fazem de “Nosso Chão” um excelente lançamento autoral de cantora.
A ancestralidade do repertório, a forte relação de sua música com o sincretismo religioso e a cultura afro-brasileira criam uma ponte certeira com a música contemporânea. “Nosso Chão” é mais um grande acerto de Bia Góes e dessa notável família musical brasileira.