Nesta última semana, dois dos maiores bateristas do planeta chegaram aos 80 anos. O primeiro deles foi o brasileiro Robertinho Silva, na última terça-feira (1º) e, logo no dia seguinte, na quarta-feira, o integrante dos Rolling Stones, Charlie Watts.
Dois instrumentistas de mundos completamente diferentes. Robertinho é negro e nasceu no Rio de Janeiro. Watts, por sua vez, é filho de caminhoneiro nascido em Londres, capital da Inglaterra, branco que sempre sonhou em tocar como os negros.
Robertinho gravou vários discos solo, foi membro fundador da lendária banda Som Imaginário e acompanhou inúmeras estrelas da música mundo afora, entre elas Milton Nascimento, Herbie Hancock, João Donato, Tom Jobim, Wayne Shorter, Pat Metheny, Paul Horn, George Duke, Egberto Gismonti, Airto Moreira, Flora Purim, Raul de Souza, Dori Caymmi, Cal Tjader, Sarah Vaughan, Gilberto Gil, João Bosco, Toninho Horta, Gal Costa, Nana Caymmi e Chico Buarque.
Watts, por sua vez, largou um estável compromisso no Blues Incorporated, o primeiro grupo britânico dedicada ao ritmo dos negros americanos formado exclusivamente por músicos brancos, para se aventurar com os garotos Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones em um novo projeto que eles formavam. A troca, mais do que acertada, acabou virando muito rapidamente uma das maiores e mais longevas bandas de rock de todos os tempos.
Apesar de ter tocado com tanta gente, assim como Watts, Robertinho Silva teve seu ponto alto mesmo com o cantor Milton Nascimento, com quem atuou durante 26 anos. É difícil imaginar aqueles discos do Milton sem a sua participação. Sua bateria repleta de imaginação caiu como uma luva para o som moderno e repleto de ancestralidade do compositor mineiro. Impregnado de uma técnica incomum, sempre atrelada à espontaneidade e inventividade nos toques e levadas, Robertinho elevou a música de Milton Nascimento a outro patamar.
O mesmo se pode dizer de Charlie Watts e seus meninos. A música dos Stones estaria muito aquém do que poderia ter sido sem ele. Seu acento característico no tempo fraco do compasso virou a marca registrada da banda tanto quanto a voz de Jagger, as guitarras de Richards e as suas fabulosas composições.
Charlie Watts conseguiu de maneira incomum ser uma espécie de ponto nevrálgico da banda, onde sempre aliou a sua técnica refinada, sua paixão pelo blues e pelo jazz, a capacidade de reforçar o tempo e carregar a banda feito um relógio à força e sensualidade do rock and roll.
Os oitenta anos destes dois senhores que mudaram e renovaram a música popular do planeta nas últimas sete décadas devem ser celebrados e muito. As obras significativas que produzem ainda – e com espantosa energia – não terminam em si e seguem influenciando instrumentistas mundo afora.
Normalmente relegados a segundo plano, bateristas como Silva e Watts elevaram o instrumento a outro andar. Como dizem os músicos, levaram a cozinha para a sala.
Vida longa aos dois. O planeta agradece.