Bob Marley mais vivo do que nunca, 40 anos após sua morte

Tanto no chamado de suas letras, que desafiavam o poder colonizador, quanto na influência que nos deixou, Marley está por toda parte

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Bob Marley me chegou pela primeira em um lindo dia de sol, lá pelo final dos anos 70, com a sua fulminante “Get Up, Stan Up”. Lembro que o carro passava rápido pela avenida 23 de maio e, naquela idade, ainda me cabiam todos os sonhos do mundo.

Tudo ali nos fazia perder o fôlego: a canção eletrizante, aquele ritmo meio recortado, onde a guitarra batia os contratempos – marca que se tornou determinante em quase tudo que se fez na música pop daí pra frente – os contracantos femininos, o grave extremo do contrabaixo, quebrando todas as regras de mixagem de então e a voz do cantor.

Marley cantava intensamente e suas letras eram brados de guerra. Eram o chamado que as juventudes de diversas partes do terceiro mundo precisavam ouvir: “Levante, resista: lute pelos seus direitos! Levante, resista: não desista da luta!”.

Este pequeno trecho foi retirado de um texto que fiz por conta do aniversário e 75 anos do ídolo jamaicano que ganhou o mundo. Disse na época e repito aqui, neste dia em que completamos 40 anos sem Marley.

As imagens do velório e enterro de Bob Marley são acachapantes. A multidão consternada que acompanha o caixão pelas ruas do país não deixa dúvidas da sua dimensão. Partia, naquele momento, não só o artista mais talentoso, mas também o cidadão mais ilustre que já surgira naquele país centro-americano. Um lugar único que cultivava e misturava diversas religiões de várias matizes e produzia a música popular mais poderosa que se ouvia então no planeta.

A cerimônia que antecedeu o enterro de Marley, que contou com a participação do ex-primeiro-ministro da Jamaica, Edward Seaga, misturou apresentações musicais com rituais religiosos que uniam líderes da Igreja Ortodoxa Etíope, que o músico havia se convertido seis meses antes, com manifestações rastafaris, movimento religioso judaico-cristão surgido na Jamaica, na década de 1930, entre negros camponeses descendentes de africanos escravizados e adotado por Marley durante toda sua vida.

Bob foi enterrado em uma capela próxima à casa onde nasceu junto com vários objetos, entre eles uma guitarra elétrica.

Ele talvez tenha sido o primeiro artista do terceiro mundo a ganhar o mundo com uma obra composta, gravada e produzida em seu próprio país. Quarenta anos após sua morte, sua música ainda é celebrada com grande intensidade em todas as partes do planeta, principalmente em sua terra natal.

Quando a morte de Bob Marley completou 31 anos, a então presidente Dilma Rousseff homenageou o músico criando no Brasil o "Dia Nacional do Reggae". Marley teve influência definitiva sobre a música brasileira, sobretudo em estados como a Bahia e o Maranhão.

O cantor, compositor e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, diz que o tripé que definiu sua música é formado por Luiz Gonzaga, João Gilberto e Bob Marley. Gil homenageou os três em discos. Seu álbum “Kaya N'Gan Daya”, de 2002, é todo com canções de Marley.

Os discos de Bob Marley são todos excelentes e podem ser ouvidos nas plataformas digitais. Sua música, no entanto, está presente ainda como influência definitiva em várias obras da cultura pop que foram produzidas a partir dele.

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