Em entrevista ao programa Roda Viva, exibido nesta segunda-feira (1), o ator e diretor Wagner Moura, que está em turnê de divulgação do filme “Marighella”, o qual dirigiu, fez duras críticas ao governo Bolsonaro e afirmou que o audiovisual “acabou”.
"Acabou Vera [Magalhães], game over. O áudio visual brasileiro funciona e existe graças a presença dos streamings no Brasil. É só por isso que trabalhadores do audiovisual estão sobrevivendo. Essa gente é tão idiota, eles são tão burros… quer dizer, esperar que o governo Bolsonaro entenda o valor da cultura para o Brasil, o valor que a cultura tem para o desenvolvimento do país, eu não espero que eles entendam isso, eles não entendem”, criticou.
Em seguida, Moura afirmou que o governo federal é incapaz de compreender que a indústria cinematográfica produz renda e trabalho. "Agora, a burrice está em não entender que somos uma indústria que gera emprego e renda. Proporcionalmente, a gente gera mais empregos e mais renda que a indústria automobilística que recebe incentivos fiscais muito maiores do que a gente", comparou.
Para o diretor de “Marighella”, afirmou que a postura do governo Bolsonaro diante da cultura se dá pelo fato de ser uma gestão composta por “ignorantes”.
"Eles declararem guerra a um setor porque não gosta de cultura, ou porque os artistas se posicionaram contra eles, ou por que são ignorantes é mais um absurdo, porque quando eles tentam destruir e chamar a gente de ladrão da Lei Rouanet, destruir as nossas reputações e toda a sorte de canalhice que eles fazem, talvez eles não deem conta que eles estão atacando… eles não estão me atacando, eles estão atacando o cara que dirige o caminhão, eles estão atacando toda uma indústria que funciona ao redor da produção do audiovisual, da produção do teatro, da música, da produção cultural brasileira", disse Moura.
“600 mil mortes por Covid que é terrorismo”
O diretor criticou a classificação de “terroristas” atribuídas a movimentos sociais e criticou o governo de Jair Bolsonaro, acusado de crimes contra a humanidade por sua gestão diante da pandemia de Covid-19.
“Todas as pré-estreias tem sido bonitas e emocionantes. Esse sentimento, que eu tenho, de que é um filme feito para o Brasil e de que não é somente um feito para os que resistiram à ditadura militar dos anos 60-70, mas também é sobre os que resistem hoje, fica muito forte nas pré-estreias. Os movimentos sociais vão em peso nas pré-estreias: Coalizão Negra Por Direitos, MST, MTST, Levante da Juventude”, declarou.
Na pré-estreia de São Paulo, Wagner Moura chegou a puxar gritos de “Fora Bolsonaro“. “Para um filme tão atacado, chegar na pré-estreia e receber amor é muito bom”, completou.
Ao comentar sobre uma das cenas do filme, o diretor disse que fez uma provocação sobre o uso das acusações de terrorismo contra movimentos sociais e criticou o governo Bolsonaro.
“Isso é uma provocação. Geralmente, os acusados de terroristas sao os pobres, o MST, o Black Lives Matter… Isso sempre me incomodou muito… 600 mil mortes por Covid que é terrorismo. 19 milhões de pessoas passando fome, é terrorismo. Amazônia pegando fogo, para mim, é terrorismo. Um ministro da Economia [Paulo Guedes] com contas offshore enquanto o povo paga um imposto alto, é terrorismo”, afirmou.
O jornalista Mário Magalhaes, autor da biografia de Marighella que deu origem ao filme, participou do Jornal da Fórum nesta segunda-feira. Assista aqui.