Sem contrato fixo com a Globo depois de 44 anos - o que classifica como sinônimo de liberdade -, Antonio Fagundes diz sentir "até um pouco de raiva" de colegas da dramaturgia que aceitaram o convite para embarcar no governo Jair Bolsonaro, como Regina Duarte e, agora, Mário Frias Filho, que assumiram a Secretaria de Cultura.
"Tenho pena de atores que aceitam esse tipo de coisa [cargos em governos]. Eles não têm a menor noção de como funciona aquilo ali. Não é uma novela, é um circo com regras próprias. E dependendo do governo, as regras são mais loucas ainda. Agora, não tenho pena não de quem aceita trabalhar neste governo atual. Tenho até um pouco de raiva", disse o ator, em entrevista à Sônia Racy, na edição desta segunda-feira (12) do jornal O Estado de S.Paulo.
Em seguida, Fagundes elencou o desmanche que vem sendo conduzido por Bolsonaro não apenas na Cultura. "A única proposta que temos visto nesses quase dois anos desta secretaria é a de acabar com a Cultura, uma proposta de desmanche, bastante coerente com a filosofia do governo que está desmanchando o meio ambiente, a saúde, a educação, e está quase desmanchando a economia também".
O ator veterano ressalta o "mau-caratismo" de Bolsonaro, que foi eleito com um discurso fake contra a Lei Rouanet. "Começaram a fazer uma campanha de que os artistas mamavam nas tetas do governo. Você já percebia aí uma coisa de mau-caratismo. Eles eram contra a Lei Rouanet. Todo o patrimônio histórico brasileiro está sendo dilapidado, as sinfônicas não estão podendo sobreviver, calaram os circos. E espere: vão destruir também o cinema".
Sobre o fim do contrato fixo com a Globo, o ator encara como "consequência de uma mudança operacional da empresa e não vejo isso como um problema não".
"Agora eu estou livre para fazer o que quiser, o que também não me impede de acertar contrato para fazer Pantanal. Posso voltar a trabalhar na TV Globo por obra, faria o Pantanal e depois…estaria livre de novo".