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Ana Elisa Ribeiro, nome dos mais proeminentes da cena de Belo Horizonte, por seu turno uma das capitais mais literárias do mundo, é poeta, linguista e professora universitária. Com uma infinidade de trabalhos publicados, lança agora este Dicionário de Imprecisões, obra em que conjuga suas três competências com delicadeza ímpar.
Não é novidade a criação de dicionários pessoais, Millôr, Drummond, etc. já se lançaram a projeto idêntico com bastante desenvoltura, mas o compêndio, o glossário dos termos de cada indivíduo, quando este indivíduo tem o que acrescer à Língua, criação coletiva, é sempre delicioso de ler. Eu próprio, há duas colunas atrás (https://revistaforum.com.br/colunistas/manoel-herzog/dicionario-de-neologismos/) lancei um verbete do meu Dicionário de Neologismos, admorador, o que pra mim é prova absoluta de sintonia com a tendência atual que a poeta mineira também captou (até então eu não tinha lido sua última obra, esta que aqui resenho). Ana faz milagre ao nível da desconstrução das palavras, como podemos constatar no poema
FILHO
Substantivo, aqui masculino e sujeito a plural
- Diz-se daquele que nasce das entranhas de alguém.
- Diz-se daquele que se forma a partir da matriz biológica de seus pais e nasce das entranhas da mulher.
- Diz-se daquele que pode ser adotado por pessoas dispostas ao amor.
- Diz-se daquele que provê céus e infernos a outrem.
- É extremamente comum que tenha como mãe uma puta.
- É também comum que não sejam mesmo putas suas mães.
- Os pais escapam a essas acusações.
- Os dicionários não podem definir essas relações satisfatoriamente.
- Diz-se de uma dupla composta por pessoas de qualquer combinação entre os sexos, em tese unidas pelo amor.
- Cabe também aos pombos.
- Diz-se quando duas pessoas se fundem, se confundem, desnaturando-se mais a identidade de apenas uma delas.
- Possibilidade de conjugação de duas individualidades, em geral inconciliáveis.
- Ver dupla.
- Pode-se definir com mais otimismo.