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Acaba de ser lançado o álbum “Duofel com Passoca”, que reúne o duo de violões formado pelos músicos Fernando Melo e Luiz Bueno e, é claro, o compositor e violeiro Marco Antônio Vilalba, mais conhecido como Passoca.
Tanto o Duofel quanto Passoca, veteranos com carreiras longevas, que beiram os 40 anos de trajetória, têm em comum o compromisso de não envelhecer. A música que fazem é sempre inquieta, inovadora, sem nunca perder o direito do ouvinte ao prazer e à fruição.
O Duofel, que trabalha mais na vertente instrumental, é responsável por discos antológicos, tanto com composições próprias quanto de outros artistas. Em 2009, lançaram com grande sucesso o álbum “Duofel Play The Beatles”, onde reviram do avesso as canções do famoso quarteto.
Já o Passoca é violeiro, cantor e compositor apaixonado pelo universo da música caipira, especialmente a de São Paulo. Autor de algumas obras-primas, entre elas o clássico “Sonora Garoa”, já fez álbuns com inéditos de Adoniram Barbosa, regravou João Pacífico entre outros.
A reunião dessas duas forças da nossa música resulta em bela soma, aglomerado de talentos em um esparramar de belezas que transitam nas duas áreas. “Duofel com Passoca” é um disco onde, apesar de Passoca assinar as composições e o Duofel os arranjos, o todo manda mais que as suas partes. Não se trata de um disco dos violonistas acompanhando o compositor nem vice e versa.
A canção “Nasce a Canção”, de Passoca e Renato Teixeira, que abre o álbum, é séria candidata a clássico. A linda melodia transita pelos versos com destreza onde o homem, seu tempo e espaço, num grande exemplo de metalinguagem, compõe a obra que apresenta no mesmo instante em que a canta ao ouvinte. Renato aparece ainda em “Água na Boca”, outra bela parceria.
Logo em seguida, o tema instrumental “Viola Celta-Ibérica”, de Passoca interpretado pelos três, apesar do título autoexplicativo, é repleta de surpresas na execução. O mesmo se dá em “Picadinho” e “Correinha”, esta dedicada ao violeiro Roberto Correia.
Os temas instrumentais se alternam às microcanções, marca registrada de Passoca. Em alguns quase haicais musicados, o compositor muita beleza com o mínimo. O Duofel, por sua vez, com a extrema capacidade de seus integrantes em formar uma sonoridade coesa, única, faz do álbum um mosaico de cordas muito próprio e particular.
O álbum traz ainda a bela participação da cantora Rita Bastos que, além de cantar, é parceira na canção “Um Bem”. No mais, o disco ainda conta com a cantoria de Ronaldo Rayol em “Nú-Metrô” e “Flying Banana”, esta última uma ótima surpresa que Passoca desencavou do antológico álbum da sua banda seminal e homônima. O trio Flying Banana, do qual fez parte, lançou apenas um álbum, em 1977, que virou raridade disputada a tapas nos sebos do país.
“Duofel com Passoca”, só pra brincar que é candidato a clássico, ainda trem uma ótima versão para “Quando o samba acabou”, de Noel Rosa. Um álbum simples, lindo, com cheiro de passado e pronto pro futuro.