A Poeta do Essencial, por Manoel Herzog

Manuel Herzog comenta o livro de poemas Quarta Camada de Pele, de Mariana Teixeira que, segundo ele, tem obtido resultados cada vez mais apurados na arte de dizer o tudo com o mínimo

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Por Manoel Herzog* Quarto livro de sua carreira e terceiro pela inovadora Editora Patuá, Mariana Teixeira surge com Quarta Camada de Pele, poemas, 2019. Pra além da onda confessional que privilegia o umbigo, tendência bastante observada nestes tempos egoicos, Mariana consegue falar de si como quem fala do mundo. Suas dores são as de todos nós, resultado de uma profunda observação da natureza humana aliada a uma compaixão pelos que sofrem, pauta da jovem autora. [caption id="attachment_167353" align="alignnone" width="342"] Mariana Teixeira. Foto: Divulgação[/caption] Quando prefaciei seu lançamento anterior tive ocasião de escrever: “A poeta não é inacessível, antes é sedenta de intimidade, mas uma intimidade que só o leitor iniciado pode obter. E, se o leitor não é do tipo experimentado nas encruzilhadas das literaturas, a simplicidade em que reside a força dos versos o introduz, com delicadeza, como a moça que sussurra, Pode entrar. É experiência mais sensorial que interpretativa a leitura. Ao ler este Breves Verdades e Outras Mentiras, composição de poeta que vive sua poesia como apostolado numa inóspita São Paulo dos bens de consumo, e que busca no mínimo dizer o tanto, enxerguei a dimensão do quanto só a poesia poderá libertar o Homem deste curral existencial.” O fato é que, como Borges, que via o mundo desde uma casca de noz, Mariana Teixeira tem obtido resultados cada vez mais apurados na arte de dizer o tudo com o mínimo. Os poemas deste Quarta Camada de Pele parecem bonsais seculares, que num vaso diminuto carregam a ancestralidade das árvores centenárias, como neste:   Botânica   quando morrer me deixe em contato com a terra   quero brotar e ser tudo o que me foi podado   ou mesmo em   Yoga   o corpo ligeiro e maleável de tanto desviar de duras palavras à queima-roupa   Conheci a poeta numa oficina ministrada pelo incansável Nelson de Oliveira, e a admiração por sua obra, cuja evolução acompanho, se fez no trato constante no já lendário bar Patuscada. Cabe, por fim, salientar o trabalho notável do editor Eduardo Lacerda com a Patuá, casa editorial que se tem firmado como uma das mais importantes alternativas atuais e que, pra além de publicar nomes consagrados da prosa e poesia nacional (Cagiano, Mattoso, Luchesi, Oliveira, etc) tem sido holofote pra autores inéditos de qualidade. Serviço: Quarta Camada de Pele, poemas, Mariana Teixeira, Editora Patuá, preço R$.38,00, www.editorapatua.com.br *Manoel Herzog, escritor brasileiro, nasceu em santos em 1964. Formado em Direito, depois do golpe, o único fórum onde tem prazer de entrar é nesta revista