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Junto aos escravos que chegaram à costa brasileira, a partir da primeira metade do século XVI, empilhados em navios negreiros, vieram os seus Orixás. De acordo com a tradição ioruba, descrita pelo etnólogo e fotógrafo franco-brasileiro Pierre Fatumbi Verger em seu livro “Orixás”, “É sempre Ogum quem desfila na frente, ‘abrindo caminho’ para os outros orixás, quando eles entram no barracão nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas roupas simbólicas”.
Ogum ficou conhecido no Brasil como Deus dos guerreiros, “filho mais velho de Odùduà, o fundador do Ifé. Era um temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos”. Ogum é também “o primeiro a ser saudado depois que Exú é despachado. Quando Ogum se manifesta no corpo em transe de seus iniciados, dança com ar marcial, agitando sua espada e procurando um adversário para golpear”, explica Verger.
A história de Ogum, bem como de todos os Orixás trazidos pelos escravos, como todos sabem, foi proibida, em mais uma das inúmeras tentativas de afogar a cultura e a religião dos negros. O Orixá guerreiro teve que ser escondido, maquiado, substituído por outro, cuja identidade, tão forte quanto o dele próprio, o substituiu em várias partes do Brasil, sobretudo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e se tornou um dos santos católicos de devoção de maior expressão do povo negro do Brasil, o São Jorge.
Nascia, assim, com a chegada dos primeiros negros cativos no Brasil, o sincretismo religioso.
São Jorge foi rapidamente relacionado a Ogum por ser, ele também, um santo de tradição guerreira. Nascido em 275, na antiga região chamada Capadócia, hoje parte da Turquia, Jorge se tornou militar e lutou contra a decisão do imperador Diocleciano de eliminar os cristãos. Foi torturado e degolado por se negar a abandonar a fé cristã.
Já na Bahia, o sincretismo de São Jorge se deu com Oxóssi, também de forma compreensível, pois é o Orixá da sobrevivência, da caça dos animais, da fartura, do sustento. Está nas refeições, pois é quem provê o alimento. É a ligeireza, a astúcia, a sabedoria, o jeito ardiloso para capturar a caça. É um orixá de contemplação, amante das artes e das coisas belas. É o caçador de axé, aquele que busca as coisas boas para um ilé, aquele que caça as boas influências e as energias positivas.
São Jorge, portanto, se tornou um dos santos mais populares do Brasil, sobretudo dos negros e das populações carentes, por ser relacionado diretamente com a luta pela liberdade e sobrevivência. Liberdade de manifestação religiosa e artística, a busca do alimento e da vida plena, bens que, ao longo destes cinco séculos de vida brasileira sempre foram negados ou conquistados a duras penas pela sua grande multidão de de votos.
Vários cânticos e canções foram compostas para São Jorge e Ogum. Jorge Ben Jor musicou lindamente a oração de São Jorge, em “Jorge de Capadócia”.
Mais recentemente, os compositores Claudemir Da Silva e Marquinho Pqd fizeram a bela “Ogum”, magistralmente gravada por Zeca Pagodinho, tendo a participação do próprio Jorge Ben Jor declamando, em um emocionante crescendo, a Oração de São Jorge.
ORAÇÃO A SÃO JORGE
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel Ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
São Jorge Rogai por Nós.