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[caption id="attachment_125384" align="alignleft" width="840"] Foto: Divulgação[/caption]
Você já deve ter ouvido ao menos uma centena de vezes comentários “inteligentes” dando conta que o nível da nossa música está horrível. Que “no meu tempo é que era bom” etc etc e etc.
O cristo da vez tem sido a funkeira Jojo Todynho ou Jojo Marontinni.
Através de sua participação no clipe “Vai Malandra”, da Anitta, ela foi alçada ao sucesso. A sua canção “Que tiro foi esse” está em todas as plataformas, toca aos montes e isto, por si só, já suscita comentários depreciativos. No seu caso, no entanto, há mais, muito mais.
Jojo Todynho é completamente fora dos padrões em todos os sentidos. É negra e totalmente resolvida e assumida com isso. Não alisa os cabelos e tampouco esconde qualquer traço étnico com adereços e fantasias. Além disso, tem 1,50 de altura e 90 quilos e é, também, assumida e resolvida com a sua forma.
De acordo com o Wikipedia, é daquelas que batalharam (e batalham) a vida toda. Nascida e criada em Bangu (RJ), foi telefonista, faxineira, camelô, cuidadora de idosos, babá em playground de shopping e vendedora de picolé. Seu apelido Jojo provém do seu nome, Jordana, já Todynho faz referência aos seus seios e Maronttini foi um sobrenome também criado por ela.
A sua música é forte e muito bem produzida. Um funk daqueles que explodem na hora, enche a pista e é mesmo fadado ao sucesso. A sua voz, forte e afinada, educada em corais de igreja, anuncia o refrão simples logo de cara e pode levar a cantora a muitos voos dentro da nossa música.
O clipe, muito divertido, assim como em “Vai Malandra” e outras canções do gênero, faz parte do todo. Música e vídeo não existiriam um sem o outro e vice e versa. Nele, logo no início, a cantora está com mais dois colegas de trabalho, dentro de um escritório circunspecto, e os convida para ir a uma festa. O suposto chefe atira os papéis da sua mesa para o alto e desbunda.
O que segue daí em diante é de se imaginar. Dança, ritmo frenético, ambiente de pegação, competitivo para, ao final, todos voltarem ao escritório, onde o chefe esconde apetrechos usados na noite anterior.
É, enfim, um trabalho profissional digo, que não fica a dever em nada para nada do que acontece ou aconteceu nas últimas décadas. Música feita para dançar e divertir e ponto.
Por que então tanta porrada? Por que tanta gente “inteligente” se incomoda tanto com o funk e seus pares? Uma rádio chegou ao ponto de fazer uma campanha em outdoor com o nome da canção e a frase: “Você NÃO ouve na Saudade FM”. Semana passada comentei aqui sobre postagem do cantor Jorge Vercillo, ele um chato de galochas, que resolveu cair também nesta mesma cantilena classista.
O fato é que dentro da voz de Jojo Todynho soam várias vozes que horrorizam a nossa gente “privilegiada” e “pensante”. Nela estão todos os que nunca falaram. E falam de maneira altiva, digna, debochada e desbocada. Se reafirmam enquanto expoente do jeito que são, sem truques e nem molduras.
Os que ficam do outro lado, o dos cheirosos e bem alimentados, urram de ódio e pavor sobre a falácia da crítica fácil. Eles, os mesmos que ouvem – ou ouviram – com prazer e atenção Kid Abelha, Ursinho Blau Blau e B52 como se fossem o suprassumo do moderno.
Jojo Todynho, meus caros, gostem ou não, é uma artista honesta e talentosa tentando sobreviver na indústria do entretenimento. Assim como todos os citados acima e muitos e muitos outros.