Escrito en
CULTURA
el
Renato Teixeira é um artista único. Relacionado com a canção caipira e, vez ou outra, o sertanejo, o cantor e compositor é um inovador dentro de um universo ancestral. Suas canções e forma de interpretar cortam o tempo num voo de ida e volta, onde conseguem a mágica de se manter nas duas pontas.
Ao mesmo tempo é um incansável inventor de projetos. Faz discos em duplas com Almir Sater, Sérgio Reis, Xangai, Zé Geraldo; grava canções folclóricas; álbuns ao vivo de vários matizes, enfim, com mais de 70 anos mantém agilidade de garoto.
Sua última invenção foi o disco “Terra dos Sonhos”, onde reinterpreta vários sucessos seus e também clássicos do universo caipira com a Orquestra do Estado de Mato Grosso, que tem a regência do maestro Leandro Carvalho.
O álbum foi gravado em 2015, mas só chegou ao público no final de 2017, através do selo Kuarup, pioneiro em lançamentos magistrais que trafegam à margem do mercado.
Além de encantadoramente lindo, o disco tem a proeza de nos chamar a atenção para a riqueza da obra de Renato de maneira fulminante e surpreendente. As melodias, de grande simplicidade, se desnudam em qualidade e beleza nas orquestrações de André Mehmari, Italo Perón, Paulo Aragão, Ruriá Duprat, Tiago Costa e Vittor Santos.
A moldura sonora suntuosa e muito bem cuidada imposta pela orquestra, ao invés de esconder a obra atrás de truques – o que é muito comum – nos coloca em evidência o trabalho do compositor, a riqueza de cada construção melódica e harmônica. Mas ele vai além e se mostra também um grande intérprete que não perde a força à frente da massa sonora.
Com a participação dos músicos Natan Marques e o filho Chico Teixeira nos violões e violas, canções consagradas e muitas vezes regravadas, como Terra de Sonhos (Renato Teixeira e Almir Sater); Raízes (Renato Teixeira); Tocando em Frente (Renato Teixeira e Almir Sater) e Amora (Renato Teixeira) aparecem vestidas para festa em traje de gala.
Os arranjos e a condução segura, certeira e apaixonada de Leandro Carvalho nos mostram outras facetas e possibilidades da obra, outras belezas escondidas. O mesmo ocorre com alguns clássicos que Renato reinterpreta, como por exemplo Trem do Pantanal, de Geraldo Roca e Paulinho Simões; Chalana (Arlindo Pinto e Mário Zan) e a linda sequência caipira final com Siriema do Mato Grosso (Mário Zan e Nho Pai); Depois do Chimarrão (Eupídio dos Santos e Nininho); Flor Mato-grossense (Anacleto Rosas Jr.) e Mato Grosso Rico (Paraíso e Tinoco).
O acento pantaneiro do disco é evidenciado tanto pela orquestra quanto pelo próprio som de Renato que já vinha desde muito influenciado por Almir Sater, seu parceiro mais frequente.
No final das contas, depois de seguidas e emocionadas ouvidas, o lindo álbum “Terra dos Sonhos” nos deixa um gosto bom de saudade e uma larga ânsia por um bom futuro, onde a gente se surpreenda cada vez mais e mais com a grandeza de obras assim espalhadas por todos os cantos do Brasil.