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O premiado Milton Hatoum, tido como um dos maiores escritores brasileiros vivos, detonou o presidente eleito Jair Bolsonaro em uma entrevista ao jornal francês Liberation. Na última quarta-feira (13), Hatoum ganhou em Paris o Prêmio Roger-Caillois de literatura latino-americana e concedeu a entrevista em que deu uma verdadeira aula sobre conjuntura política brasileira.
Para o autor de "Dois irmãos", a eleição de Bolsonaro foi uma "derrota brutal". "Nós fomos espancados pela extrema direita, e isso não é pouca coisa", afirmou.
O escritor, em sua análise, ainda criticou a forma como a imprensa trata espectro político do capital reformado do Exército. "Mesmo que a imprensa brasileira não diga, por desonestidade intelectual, Bolsonaro é de extrema-direita", disse, antes de apelar pela solidariedade dos franceses.
"Apelamos mais uma vez pela solidariedade da França, que já hospedou muitos exilados durante as ditaduras na América Latina", clamou.
De acordo com Hatoum, Bolsonaro "liberou o racismo, o machismo e a homofobia no Brasil" e lembrou que o presidente eleito "fala de negros como se fossem animais". Ao entrevistador, o escritor lembrou episódios como o que Bolsonaro disse à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque ela "não merecia", que "prefere morrer a ter um filho gay" e que seu ídolo número um é um torturador. "É uma loucura!", exclamou.
Quando o tema da conversa mudou para a cultura, o escritor seguiu não poupando críticas a Bolsonaro. "Bolsonaro não tem nada a ver com cultura. Ele é um homem vulgar e ignorante. Seu governo é anti-intelectualista em princípio".
Na mesma entrevista, Milton Hatoum ainda fez uma enfática defesa do ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril deste ano. De acordo com o escritor, as motivações da prisão do petista foram políticas e, para ele, seu encarceramento a longo prazo representa um "assassinato político".
"Ele foi condenado sem provas a doze anos de prisão. A motivação foi política. Lula estava liderando as pesquisas. Também perseguido em outros casos, ele não será libertado tão cedo. Sua reclusão prolongada equivale a um assassinato político", disparou.
Confira a íntegra da entrevista, em francês, aqui.