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O livro de Marcos Gama é oportuno pelo clima muito parecido que vivemos hoje na Cidade e no Brasil, para que as pessoas saibam o que foi o retrocesso e a violência da Ditadura Militar, para que não deixemos que as trevas retornem.
Por Simão Pedro Chiovetti*
Estive ontem (terça-feira, 28) à noite no lançamento do livro romance do jornalista e grande amigo Marcos Gama. Vivendo na Vila Buarque, Gama presenciou e viveu todo o clima da repressão política do Golpe de 64 e resolveu escrever o que presenciou e viveu no episódio conhecido com a Batalha da Maria Antônia. Falei no evento que o livro é oportuno pelo clima muito parecido que vivemos hoje na Cidade e no Brasil, para que as pessoas saibam o que foi o retrocesso e a violência da Ditadura Militar, para que não deixemos que as trevas retornem!
Gama é meu companheiro também na torcida do Verdão e fundou o Movimento Porcomunas, que reúne palmeirenses que defendem mais Democracia e participação no clube mais vitorioso do século XIX e bicampeão mundial em 2018!
O Brasil, desde os anos 50, vinha num razoável crescimento cultural e político. O Golpe de 64, com toda a perseguição doentia ao pensamento livre, e violência física aos opositores, não conseguiu estancar de imediato estes avanços. O homem com sabedoria, acuado, cresce na sua produção, e até 68, esta criatividade incomodou os militares no poder.
Subservientes à inteligência norte-americana, os golpistas recusaram as energias positivas que elevavam o debate do país. Optaram por servir aos donos de velhos e desonestos privilégios, e exercer um poder macabro, que só fomentou a violência. Criaram cartilhas e mecanismos repressivos a tudo que não servisse a essas perversas e carcomidas elites nacionais. Conivente, uma imprensa escrita, censurada, estranhamente demorou a acordar. Diferente da oligarca televisão, que se autocensurava. Assim, gestaram o AI-5 e o decreto-lei 477, guilhotinas em cabeças essenciais à formação honesta da nação. Um estancamento histórico que só alimentou a bolha da safadeza e do cinismo nacional.
E quando a Casa Grande divisou que a bolha ia explodir, rolou-a para a senzala, aproveitando que ela se articulava pela primeira vez no poder. Assim, os pecadilhos dos desafortunados foram baralhados aos dos grandes arquitetos do nosso universo aristocrático, de ruralistas a banqueiros. As “ações” entre irmãos cresceram no combate à perigosa inclusão social, e os novos bispos-magnatas, para “salvar” os incautos, e aumentar o livre trânsito em favelas e cadeias, vão ignorando os fornecedores de drogas às carcomidas elites. Perversidades e contrassensos desprezados nesse espetáculo hipócrita das delações seletivas, e na massacrante manipulação midiática.
Sobreviventes dessa repressão, velhos amigos, fortuita e inusitadamente se encontram no centro de São Paulo e resolvem voltar à Vila Buarque, região marcante entre 64/68. Sentem a decadência dolosa da cidade, e provam o que foi o caldo da regressão.
Marcos Gama é jornalista e delegado de polícia. Foi morador da Vila Buarque nos anos 1960 e tem longa militância política, tendo sido, diversas vezes, diretor da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. Foi professor de Relações Humanas da Acadepol. É autor do livro de crônicas “Nação Inversa” (Mania de Livros). “Vila Buarque” é seu primeiro romance. A capa é de Gilberto Maringoni.
*Simão Pedro Chiovetti (foto) é mestre em Sociologia Política. Foi deputado estadual e secretário de Serviços do ex-prefeito Fernando Haddad
Fotos: Reprodução