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A canção pacifista “Imagine”, que condena a religião e a propriedade, se tornou um mantra obrigatório. Lennon estaria hoje fazendo escárnio dos incautos em corais globais abençoados por presidentes republicanos e bispos em tom de candura a entoar seu cântico de luta
Por Julinho Bittencourt
Há muito poucas maneiras – ou quase nenhuma – de se tornar eternamente jovem. A principal delas é morrer cedo. Tudo o que restará de você será a memória de um garoto e as suas atitudes, espera-se, iconoclastas e rebeldes.
O breve nariz de cera é só pra recordar que nesta segunda-feira (9), mesma data do assassinato de Chê Guevara, nasceu, algumas décadas antes, em 1940, em Liverpool, John Lennon, outro ícone da rebeldia e da conspiração juvenil.
Lennon, que tem o maior da sua memória atrelada aos Beatles jovenzinhos, com terninhos comportados cantando iê, iê, iê, seguiu vida afora depois da dissolução do grupo, em 1070, com uma intensa militância política.
O cantor e sua esposa, Yoko Ono, participaram de várias campanhas pacifistas, feministas e contra o racismo ao lado de gente como Jerry Rubin, Abbie Hoffman e John Sinclair. Fez uma canção em homenagem à Angela Davies, além de dar apoio formal ao Partido dos Panteras Negras.
Namorou com a arte de vanguarda, assumiu o nome da esposa em seu sobrenome e se retirou durante cinco anos para cuidar do filho Sean, enquanto Yoko cuidava dos negócios.
A intensa atividade política rendeu a ele um processo de extradição, que tinha como pretexto a condenação por porte de maconha que Lennon teve na Inglaterra, em 1968. Depois de ampla campanha, com milhares de assinaturas favoráveis a ele pelo povo americano, que foram devidamente agradecidas na capa do disco “Double Fantasy”, seu último lançamento em vida, ele pode permanecer na América.
Em 1980, com 40 anos recém completados, Lennon foi morto por um fanático na porta de seu edifício, o lendário Dakota, de frente para o Central Parque, em Nova Iorque. Sua morte consternou o mundo, tanto pela sua grandeza como artista quanto pela absoluta estupidez como ocorreu.
Com um disco recém lançado e uma obra solo que não havia alçado voo como as dos ex-Beatles Paul McCartney e George Harrison, Lennon finalmente teve o seu legado reconhecido. A canção pacifista “Imagine”, que condena entre outros dogmas do mundo capitalista, a religião e a propriedade, se tornou um mantra obrigatório em quase todas as festas globais.
Com a sua eterna juventude e irreverência, Lennon estaria hoje fazendo escárnio dos incautos em corais globais abençoados por presidente republicanos e bispos em tom de candura a entoar seu cântico de luta.