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Processo chamado Lab.Irinto articula cerca de cem iniciativas da Baixada Santista
Por Adriana Delorenzo
Reunir diversas iniciativas e cidadãos que têm em comum o desejo de transformar as realidades locais, construindo soluções que não buscam o lucro por si só, como uma empresa tradicional. Este é, basicamente, o objetivo de um Laboratório de Inovação Cidadã, conceito que já vem sendo usado em várias partes do mundo. E algumas dessas experiências estiveram representadas em Santos, litoral de São Paulo, onde foi realizado o Encontro Internacional de Cultura Livre e Inovação Cidadã (Lab.Irinto), na sexta-feira (24).
Pode se dizer que na verdade o evento não foi, está sendo, é um processo. Isso porque os laboratórios aproximam coletivos e grupos que já existem para construir uma rede. Na Baixada Santista, o Lab.Irinto vem articulando as iniciativas de toda a região desde abril. Cerca de cem experiências já foram mapeadas e começaram a participar da construção do que deverá se tornar um laboratório, o LABxS (Lab Santista).
“O principal objetivo era construir a rede e essa rede se apresentou”, explicou o idealizador do Lab.Irinto, Rodrigo Savazoni. “São projetos de muita potência em suas localidades”, completou.
No Brasil, o conceito desses laboratórios ainda não é muito difundido. Mas há bons exemplos, como o Labmóvel, projeto itinerante que disponibiliza um laboratório de mídias móveis para a produção de residências de arte, workshops e eventos culturais.
Há ainda os LabCEUs – Laboratórios de Cidades Sensitivas, que promovem ocupações nos laboratórios multimídias dos centros educacionais. A proposta é gerir espaços criativos junto às comunidades. Ou os Contos de Ifá, laboratórios de inovação para promoção da identidade negra e feminina de comunidades tradicionais, que atua no desenvolvimento de games roteirizados a partir da mitologia afro-indígena.
Na vizinha Argentina, o Santalab foi criado na província de Santa Fé, que articula grupos que já têm práticas cidadãs para trabalhar de forma colaborativa desenvolvendo projetos críticos sobre as cidades atuais. “Há muitos modelos de laboratórios e muitas práticas de gestão, mas o primeiro passo é reconhecer as iniciativas que já existem no território”, disse Dardo Cerballos. Para ele, os laboratórios surgem de uma necessidade de se pensar numa lógica parecida a da Wikipédia, onde todos participam do processo colaborativamente e se beneficiam dele.
Novos ‘fazedores’
Segundo Savazoni, tem surgido em diversos lugares esses espaços, que são “formas laboratoriais e experiências de pensar caminhos práticos”. “Um espaço como esse, de invenção, de criação, é fundamentalmente feito de pessoas, mais do que tecnologias. O fundamental é você conseguir reunir uma rede de pessoas interessadas e engajadas em torno de uma agenda, que é a agenda da experimentação de novos caminhos. Novos caminhos para a cidade, para a educação, para a alimentação, para a cultura, baseado na ideia de que a gente tem que estimular a cultura do fazer”, explicou.
Para Gisela Domschke, co-fundadora e diretora artística do Labmovel, a criação de laboratórios é “muito importante para abrir caminhos para novas construções e para novos hubs, e inclusive criar novos projetos”. Mesmo com as possibilidades da globalização e novas tecnologias, que facilitaram a comunicação, ela acredita que os espaços físicos contribuem para trocas afetivas e de experiências. “A rede troca experiências, informações, talentos, faz residências, eventos, isso contribui para gerar novos projetos, replicar aqueles que foram feitos de maneira experimental e de forma piloto. Essa rede pode fazer com que esses projetos sejam aperfeiçoados, por meio dessa troca de experiência, amplificados e replicados, que é o objetivo maior.”
Mas o que une essa rede em torno de um laboratório? Segundo Gisela, é a “motivação transformadora de inovação”. “Isso acontece em vários âmbitos, há modelos que pensam mais no sentido de cidadania, tem modelos que pensam mais no sentido de novas formas de produção e até quase se aliam ao sistema de produção capitalista, outras são formas meramente educativas, e muito longe de qualquer interesse comercial, mas todas elas têm esse caráter da inovação.”
Foto: Divulgação