Inspirada em fatos reais, a obra é o primeiro romance do presidente do Fundo Brasil de Diretos Humanos e fala sobre a articulação da sociedade civil diante da ditadura militar
Por Felipe Rousselet
[caption id="attachment_20243" align="alignleft" width="300"] Autor de vários livros, Sérgio Haddad estreou como romancista com "Apartamento 34" (Foto: Felipe Rousselet / Revista Fórum)[/caption]Uma história inspirada em fatos reais, que mostra os moradores de um apartamento e suas relações, tendo como pano de fundo a luta contra a ditadura militar e a organização dos movimentos sociais. É isso o que conta o livro Apartamento 34, primeiro romance de Sérgio Haddad, presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos e um dos fundadores da ONG Ação Educativa, lançado esta quarta-feira (19), em São Paulo.
Durante o lançamento de Apartamento 34, Haddad contou o que o motivou a estrear como autor de romances. “Nasceu de uma preocupação minha de utilizar outra linguagem, diferente do que tradicionalmente utilizo como professor universitário, científica, ou como ativista, uma linguagem militante e politicamente correta. A ideia de usar o romance é contar a história de uma geração, da década de 60, uma geração engajada, que tinha suas dúvidas sobre o futuro, como se integrar, como trabalhar frente à ditadura militar e as dificuldades, de uma maneira mais leve. Não que a temática fosse leve, mas a linguagem é mais acessível, mais romanceada”, contou o autor.
Presente no lançamento do livro, o cartunista Laerte falou sobre a importância de contar a história dos jovens que enfrentaram o regime militar. “Muitas vezes a gente se esquece que nós tínhamos 20 anos naquela época. Não havia só uma situação de censura, opressão e ditadura. Claro que havia isso tudo, mas o outro lado da moeda era que éramos jovens, cheios de sonhos, ideias e uma vontade generosa de se atirar na vida, conhecer pessoas, conhecer o povo”, lembrou Laerte.
O cartunista também comentou a importância de construir uma ponte entre as histórias daqueles que lutaram contra o regime militar e as novas gerações de brasileiros preocupados com o futuro do país. “Acho que se trabalhos como esse do Sérgio conseguirem fazer a ponte com as novas gerações que estão também preocupadas com o futuro do Brasil é do cacete, é isso que tem que ser feito mesmo. Essa história não tem que ser resgatada não apenas para o conhecimento da verdade e penalização dos monstros que trabalharam naquela época, mas também para se recuperar uma certa visão que existia, um certo modo de se preocupar com a realidade”, completou o cartunista.
Em Apartamento 34, temas como cultura e economia caminham em paralelo com a história da organização da sociedade civil no período. Neste contexto, são apresentados os primeiros trabalhos de educação popular, a força dos movimentos ligados às igrejas na mobilização social, formação de organizações não governamentais e a busca por recursos da cooperação internacional para a sociedade civil organizada.
Ao mesmo tempo em que apresenta temas de grande importância e que contam a história da organização social no período do regime militar, Haddad traz para o cotidiano daqueles que vivenciaram a ditadura. Seus encontros, desencontros, alegrias, dissabores amorosos, projetos e sonhos. Fruto de um ano e meio de trabalho, apoiado pela Fundação Ford e pelo CNPq, a obra demandou entrevistas com os primeiros oficiais de projetos nas agências de cooperação internacional e com protagonistas da sociedade civil brasileira da época. [caption id="attachment_20244" align="alignleft" width="300"] Sérgio Haddad e Margarida Genevois no lançamento do livro "Apartamento 34" (Foto: Felipe Rousselet / Revista Fórum)[/caption]
Também presente no lançamento, Margarida Genevois, que lutou ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns em defesa dos presos políticos, contra as prisões arbitrárias pelo regime e pela volta do Estado de Direito no país, falou sobre o significado do resgate histórico para que ditaduras não voltem a assolar o Brasil. “Acho muito importante recordar isso porque os jovens não sabem bem o que aconteceu. Então, temos que manter a memória, não só pelos que lutaram e pelos que perderam a vida na luta, mas, sobretudo, para que não aconteça de novo. É muito fácil acontecer se nós não estivermos ativos, defendendo os princípios da democracia e da justiça”, disse Genevois.
Sérgio Haddad
Sérgio Haddad nasceu em 1949, em São Paulo, educador e economista, atualmente é presidente do Fundo Brasil de Diretos Humanos e assessor da ONG Ação Educativa. Como ativista social, foi presidente da ABONG (Associação Brasileira das ONGs), Relator Nacional para o Direito Humano à Educação e um dos incentivadores do Fórum Social Mundial. Além de ter participado de conselhos de diversas organizações da sociedade civil nacional e internacional como, ICAE, Rede Social, Green Peace, IDEC e INESC. Membro do CDES-PR (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social da Presidência da República), participou da Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos.
Haddad é autor de vários livros e artigos publicados sobre educação, políticas públicas, movimentos sociais, ONGs e desenvolvimento. Apartamento 34 é a sua estreia nos romances. “Foi um exercício muito bom. Acho que vou fazer outros, já estou com planos de escrever outros. Sempre pensando na lógica de traduzir em outra linguagem fatos com significado social e político para a conjuntura atual”, prevê o autor.