O estudo que havia sido responsável, em julho de 2020, por ligar a hidroxicloroquina (HCQ) ao tratamento de Covid-19 foi finalmente retratado, de maneira oficial, pela editora Elsevier, por "questões éticas" e "problemas metodológicos", de acordo com a revista Nature.
O estudo, publicado na revista International Journal of Antimicrobial Agents, serviu de base para médicos de todo o mundo — com menção especial, no Brasil, para Nise Yamaguchi, a médica conselheira de Bolsonaro que desafiou pesquisas contrárias, defendeu arduamente "os benefícios da cloroquina" e foi convidada a depor na “CPI da COVID” — durante o ponto alto da pandemia de COVID-19, mas também foi questionado por vários deles.
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A pesquisa levava em conta uma amostra de apenas 36 pacientes, considerada insuficiente para um estudo clínico dessa espécie, e foi publicada num período de apenas quatro dias após sua submissão — rápido demais para uma revisão par a par rigorosa.
Após a publicação, outros estudos e profissionais apontaram a ineficácia do tratamento com hidroxicloroquina, medicamento usado principalmente para tratar casos de doenças autoimunes, como o lúpus e a artrite reumatoide, para o tratamento de doenças dermatológicas e contra a malária.
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Essa foi a 28ª retratação de um artigo do autor, Didier Raoult, um microbiologista francês do Instituto Universitário de Infecção Mediterrânea (IHU), de Marselha.
O artigo foi citado pelo menos 3.400 vezes, de acordo com a Web of Science — considerado o mais citado artigo sobre o SARS-Cov-19 e o segundo artigo mais citado a ser retratado do mundo.
Apoiado por líderes políticos como Bolsonaro e Donald Trump (que chegou a publicar na rede social X sobre o estudo, afirmando se tratar de um "game changer"), o tratamento com cloroquina induziu à desaceleração e ao atraso de outros tratamentos num momento crítico da pandemia, na opinião de Ole Søgaard, infectologista do Hospital Universitário de Aarhus, na Dinamarca, ouvido pela Nature.
"O estudo foi claramente conduzido às pressas e não aderiu aos padrões científicos e éticos comuns", disse ele.
Pelo menos três coautores pediram para ter seus nomes retirados do estudo.