Em depoimento, Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), acusou o governo de Jair Bolsonaro de ter alterado documento mencionado pelo presidente a respeito de uma suposta supernotificação de casos de Covid-19 no país.
Marques está sendo investigado por ter sido o autor do material e classificou como “irresponsabilidade” a divulgação do documento por Bolsonaro. As informações são de Leandro Prazeres e Mariana Muniz, em O Globo.
“Quando eu vi o pronunciamento do presidente Bolsonaro, eu fiquei totalmente indignado, porque achei totalmente irresponsabilidade o mandatário da nação sair falando que o tribunal tinha um relatório publicado, que mais da metade das mortes por Covid não era por Covid. Eu achei, bem, uma afronta a tudo que a gente sabe que acontece, a todas as informações públicas, à ciência”, disse Marques.
As declarações do servidor foram prestadas no âmbito de um processo disciplinar aberto contra ele, que podem provocar seu afastamento do cargo ou até demissão. Em consequência do caso, ele foi afastado das funções.
No dia 7 de junho, Bolsonaro afirmou a apoiadores, no tradicional cercadinho do Palácio da Alvorada, que um suposto relatório do TCU apontava que 50% das mortes por Covid-19, em 2020, tinham sido provocadas por outras causas.
Sem sustentação
No mesmo dia, o TCU divulgou nota, afirmando que não tinha como sustentar a afirmação de Bolsonaro. O tribunal disse, ainda, que não era o autor do relatório.
No dia seguinte, o tribunal anunciou que o documento mencionado por Bolsonaro era uma análise pessoal feita pelo servidor Alexandre Marques.
Em 28 de julho, durante depoimento à corregedoria do TCU, o servidor foi indagado a respeito de possíveis adulterações do documento. Ele disse presumir que houve alterações na Presidência da República.
“[O material] não tinha nenhuma alusão ou identidade visual do Tribunal de Contas da União (TCU). Nesse arquivo em pdf que viralizou, não tinha nenhuma identidade visual, data, assinatura, nada. Era somente um só arrazoado. Esse arquivo foi alterado depois que eu passei pro meu pai. No meu arquivo não tinha qualquer menção ao TCU, não tinha destaques e grifados, nada disso. Depois que saiu da esfera privada, particular, como era um arquivo em Word ele poderia ser editado por qualquer pessoa”, afirmou Marques.
Colega de Bolsonaro
Em seu depoimento, o servidor declarou, ainda, que encaminhou ao pai dele, o coronel da reserva Ricardo Silva Marques, uma mensagem de texto com um levantamento redigido por ele sobre as mortes causadas por Covid-19, “porque esse era um assunto do qual eles costumavam tratar informalmente”. O pai de Marques foi colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
“Na segunda-feira foi quando eu tomei conhecimento da fala do presidente Bolsonaro e fiquei atônito. E, então, meu pai me explicou que encaminhou o arquivo em Word para o presidente Bolsonaro”, afirmou.
A CPI do Genocídio aprovou a convocação do servidor do TCU. O depoimento deverá ocorrer na terça-feira (17). Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou Marques a ficar em silêncio,