Em lives, Arthur Weintraub e Luciano Azevedo detalham “gabinete paralelo” descoberto pela CPI

O ex-assessor da presidência afirmou que cerca de 300 pessoas aconselharam Bolsonaro sobre uso da cloroquina contra Covid-19

Weintraub e Azevedo – Foto: Reprodução/Facebook
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Arthur Weintraub, ex-assessor da presidência e idealizador do chamado “gabinete paralelo”, esclareceu como funciona o grupo que orientava Jair Bolsonaro no combate à pandemia do coronavírus, de acordo com reportagem de Fábio Zanini, na Folha de S.Paulo.

Weintraub disse que cerca de 300 pessoas aconselharam o presidente em relação ao uso da cloroquina contra a Covid-19. O irmão do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, realizou duas lives em seu canal no YouTube com o médico anestesista e defensor do tratamento precoce, Luciano Dias Azevedo, em 2020 e 2021, e ambos explicaram o funcionamento do grupo.

A existência do “gabinete paralelo” é uma das principais teses dos senadores da CPI do Genocídio. Eles têm convicção que um grupo fora do Ministério da Saúde, formado por negacionistas, é responsável por aconselhar Bolsonaro sobre uso de medicamentos sem eficácia contra a doença, como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina.

Em live no dia 8 de julho de 2020, Azevedo agradeceu Weintraub por ter criado o grupo paralelo. “Eu quero te agradecer [Arthur], muito obrigado por essa jornada, de dias e noites que conversamos tanto, estudamos tanto juntos, discutimos tanta coisa. Você começou isso lá no começo de março [de 2020], pedindo para juntar gente para estudar [tratamento precoce]”.

Weintraub respondeu ao colega, admitindo que o médico também foi responsável pela criação do gabinete. ‘Você juntou um grupo gigante. As pessoas não sabem. Você deve ter umas 300 pessoas na tua rede de contatos, networking, só da hidroxicloroquina. Você é antenado, você sabe o que está acontecendo lá fora”.

Em outra conversa, no dia 13 de fevereiro de 2021, Azevedo afirmou que Arthur Weintraub atuou junto ao irmão, ex-ministro da Educação, ao colher supostas evidências da eficácia do tratamento precoce e foi quem apresentou essas teses a Bolsonaro.

“Arthur começou a buscar junto com o Abraham para achar soluções para o país e para os hospitais e levava os artigos para o presidente ler. O presidente foi entendendo a doença, foi entendendo as possíveis soluções, o tratamento [precoce] era uma das soluções”, afirmou.

Ele ainda menciona vários médicos que participaram do aconselhamento paralelo, inclusive Nise Yamaguchi. “Fomos construindo e agregando, aí veio o Zanotto, veio o Paulo, que é um colega da Unifesp que trabalha na área de linguística, o Marcelo, a Nise, o Wong, o Zeballos, a Marina, Luciana, Jorge, Zimmermann, já são mais de 10 mil. Entre fevereiro e março [de 2020] éramos nós que estávamos estudando, o Arthur tentando conectar esse pessoal todo”.

Tratamento precoce

Em muitos trechos, ambos defenderam o tratamento precoce, desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela maioria dos especialistas por ser ineficaz e perigoso.

“Ah, mas não está cientificamente comprovado. Bicho, tamiflu ali atrás também não estava e foram dando para todo mundo quando teve o H1N1”, declarou Weintraub na conversa de julho de 2020.

Estudo rejeitado

Azevedo também defendeu o uso da hidroxicloroquina no início da doença. Ele mencionou como referência o médico ucraniano-americano, Vladimir Zelenko, um dos maiores propagadores da droga no mundo, cujos estudos foram rejeitados pela maior parte da comunidade científica internacional.

“O último manuscrito do dr. Zelenko está mostrando 84% menos de internação e 5% menos de mortalidade naqueles que usam o protocolo de tratamento precoce”, disse o anestesista.