Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta terça-feira (11), o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, condenou falas do presidente Jair Bolsonaro contra a vacinação na pandemia do coronavírus. Ele disse que falas não têm "razoabilidade histórica" e que "vacina é essencial".
O comentário foi feito após Barra Torres ser questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), se ele concordava com as declarações do mandatário. O senado citou diversos exemplos de comentários de Bolsonaro contra a vacina proferidos ao longo da pandemia.
"Vai contra tudo o que nós temos preconizado em manifestações públicas, pelo menos aquelas que eu tenho feito, e aquelas que eu tenho conhecimento. Entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política de vacinação é essencial. [...] Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão das pessoas usarem máscara, de isolamento social e de álcool gel", disse o diretor da Anvisa.
"Discordar de vacina, falar contra vacina, não guarda uma razoabilidade histórica, vacina é essencial. Eu penso que a população não deva se orientar por condutas dessa maneira", completou.
Sobre a presença de Jair Bolsonaro em aglomerações, sem o uso de máscara, Barra Torres disse que, "apesar da amizade que tenho pelo presidente, minha conduta difere da dele". Ele ainda foi indagado sobre a sua presença em ato de apoio ao governo junto co Bolsonaro, em março de 2020. Segundo ele, se a manifestação fosse hoje, "pensaria cinco minutos e não faria".
O presidente da Anvisa disse ainda que, naquela ocasião, foi ao encontro do presidente para ter uma conversa particular, mas Bolsonaro o teria levado junto aos apoiadores.
"Estive em conversa particular com o presidente e quando cheguei o presidente se aproximou para interação com o público. Esperei ele tratar. Hoje, se tivesse pensado cinco minutos não teria feito", disse. Barra Torres também foi confrontado sobre ter feito aparições públicas sem máscara. Ele disse que, na época, "não havia uso disseminado" do artefato de proteção.
Bula da cloroquina
Na comissão, o diretor Anvisa também confirmou que esteve em uma reunião no Palácio do Planalto, no ano passado, na qual foi cogitada a possibilidade de mudar a bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado a pacientes no tratamento da Covid-19.
Barra Torres disse que rejeitou prontamente a ideia. "Isso provocou uma reação talvez deseducada, deselegante minha. Porque, talvez Vossa Senhoria não saiba, mas aquilo não poderia ser, porque só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele país, mas desde que solicitado pelo laboratório responsável por aquele produto. Isso me causou uma reação mais brusca de que 'isso não tem cabimento, isso não pode'. A reunião nem durou muito mais tempo", disse.
Ainda de acordo com Barra Torres, quem perguntou sobre a possibilidade de mudança da bula foi a médica Nise Yamaguchi, que parecia "mobilizada" em torno do assunto. Ele não soube dizer, no entanto, quem foi o responsável da ideia.
"Ela fez uma proposta absurda, ninguém aqui pode fazer isso. É o laboratório que tem a bula", condenou Barra Torres.
Acompanhe ao vivo o depoimento de Antonio Barra Torres na CPI da Covid-19: