Exclusivo: Governo Bolsonaro deixa de fora parte das pessoas com deficiência de grupo prioritário da vacina

Pessoas com deficiência seriam vacinadas após grupo de comorbidades. Com nova diretriz, apenas os que recebem auxílio serão imunizados

Foto: Divulgação
Escrito en CORONAVÍRUS el

Artista plástico e ex-vereador de Amparo, cidade do interior de São Paulo, Sergio Nardini é portador de uma doença neuromuscular rara, chamada de Atrofia Muscular Espinhal Progressiva (AME). A doença reduziu sua capacidade pulmonar para 43%, o que torna Nardini um alvo perigoso para a Covid-19. Apesar disso, ele ainda não tem expectativas de quando deve se vacinar contra a doença, já que não enquadra nas próximas fases da vacinação dos grupos prioritários conforme estabelecido no Plano Nacional de Imunização.

"Eu tenho uma baixa capacidade respiratória, de 43%, isso me coloca em um grupo de altíssimo risco. Se eu for contaminado, no meu caso é bastante complicado", conta o ex-vereador, em entrevista à Fórum. "Eu não saio de casa há um ano e não recebo visitas", completa Nardini, que conta com ajuda da família para a higienização dos equipamentos que utiliza.

O governo federal divulgou nesta semana novas diretrizes da vacinação da Covid-19 para o grupo das comorbidades, o próximo a ser contemplado pelo Plano Nacional de Imunização. As comorbidades são pessoas que têm alguma doença ou agravo prévio, tornando-as mais vulneráveis às complicações da doença.

A nova diretriz passou a contemplar pessoas com deficiência permanente, mas apenas aquelas cadastradas no programa de Benefício de Prestação Continuada (BPC), auxílio do INSS. A primeira fase ainda restringiu a vacinação para pessoas de 55 a 59 anos.

Com isso, pessoas como Nardini, que têm deficiência mas não recebem auxílio do governo, foram deixadas de fora nesta próxima fase da vacinação. Para o ex-vereador, os critérios não são justos, já que o critério socioeconômico não foi aplicado em outros grupos prioritários já vacinados.

Como forma de pressionar o governo para que estenda a vacinação a todas as pessoas com deficiência, Nardini atua no movimento de âmbito nacional "Movimento PCD - Imunização já", que tem orientando as pessoas no Brasil todo para que atuem nos municípios e nos estados onde moram.

"Eu já fiz uma mobilização em Amparo, envolvendo o Conselho da Pessoa com Deficiência, e a resposta é sempre a mesma: 'não tem vacina suficiente e o município depende do planejamento do Estado'", comenta o ex-vereador. "Outra orientação do próprio movimento é a judicialização", completa.

Conselho Nacional defende vacina para todos

Em audiência pública da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência, da Câmara dos Deputados, realizada no último dia 12, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) defendeu a inclusão de todas as pessoas com deficiência entre os prioritários na vacinação contra a Covid-19.

Especialistas que participaram da audiência lamentaram os critérios do governo federal, destacando as diversas vulnerabilidades às quais as pessoas com deficiência estão sujeitas.