Elogiado por diversas vezes por Jair Bolsonaro, com quem já se encontrou no Palácio do Planalto, o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Ribeiro, afirmou em entrevista ao Estadão, publicada nesta quinta-feira (25), que não pretende revisar o parecer de abril do ano passado, que autoriza médicos a prescreverem a cloroquina, e ressaltou que a entidade não incentiva e nem proíbe o tratamento precoce com o chamado "kit Covid" - que inclui ainda azitromicina e ivermectina -, uma das bandeiras do governo.
"Todos são passíveis de crítica: tanto os [estudos] que mostram eficácia quanto aqueles que mostram que ele não tem qualquer tipo de ação. Nós nem incentivamos nem proibimos. É um tema dificílimo. Não existe consenso na classe médica. Nenhuma entidade é detentora do saber", disse.
Ribeiro afirmou ainda que "essa ideia de que a ciência já concluiu que essas drogas não têm efeito não é 100% verdadeira" e que "existem estudos observacionais que mostram o benefício de algumas drogas".
"Só que esse tratamento é tão politizado no Brasil que quem defende o tratamento é taxado de simpatizante do presidente da República e quem não faz o tratamento é taxado imediatamente como contrário ao presidente. E essa discussão é tudo que nós não precisamos. As drogas que são usadas têm poucos efeitos colaterais. Embora, agora, existam relatos de duas universidades brasileiras de cinco pacientes que teriam evoluído à morte ou para fila de transplante (de fígado) e isso teria sido causado por uma dessas drogas. Não tem nenhuma comprovação científica que foi uma dessas drogas que causou e nem as condições que isso aconteceu, mas nós estamos em alerta", afirmou, em relação a casos notificados nos últimos dias.
Segundo ele, o que o parecer do CFM define diz respeito à possibilidade do médico poder receitar o tratamento precoce.
"O que o Conselho Federal de Medicina decidiu no parecer 4 de 2020, que é para uma droga (cloroquina/hidroxicloroquina), mas serve para as outras por analogia, é que já que não existe um consenso na literatura, já que é uma doença devastadora, que mata e que não tem tratamento e que, no aspecto observacional, existem algumas drogas que podem ter efeito, nós delegamos ao médico brasileiro, na ponta, junto com o paciente, decidir qual o tratamento que vai ser feito. O médico tem que sentar com o paciente e explicar que é um tratamento que não tem comprovação que faça algum alguma diferença e que, se o paciente quiser ser tratado e o médico se disponibilizar a tratar, que seja feito o tratamento".
Ribeiro ainda negou que o Conselho de Medicina seja aliado do governo.
"Temos sido críticos inclusive ao presidente (Jair) Bolsonaro. Recentemente, teve um aplicativo que foi colocado no ar pelo ministério que era um verdadeiro absurdo. Fizemos um ofício ao (ex-)ministro (Eduardo) Pazuello pedindo a retirada do aplicativo do ar e dando as razões. O ministro imediatamente tirou o aplicativo do ar. Existem informações desencontradas por parte do governo federal? Claro que existem. Existe um excesso em relação a preconização do chamado tratamento precoce? Com certeza absoluta. Mas o médico brasileiro sabe o que faz", afirmou, dizendo que é preciso "reunificar o país" de form urgente.