Em entrevista à GloboNews na noite desta sexta-feira (26), o médico Drauzio Varella não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que mais cedo visitou o Ceará e, mais uma vez, promoveu aglomerações, não usou máscara e desrespeitou protocolos contra o contágio da Covid-19.
A fala incisiva de Drauzio contra o presidente, cujo o negacionismo não é novidade, se deu principalmente pelo fato da nova atitude irresponsável do titular do Planalto ter se dado justamente um dia após o Brasil bater recorde de mortes em um só dia em decorrência da doença do coronavírus. Além disso, o estado do Ceará, assim como a maior parte das regiões brasileiras, está com superlotação nos hospitais, o que obrigou o governador a endurecer as medidas de restrição.
"Morrem 1.500 pessoas ontem, hoje o presidente da República sai sem máscara e provoca aglomeração", declarou.
"Como a gente classifica um comportamento desse? Você vai dizer: 'é um mau comportamento'. Não, mau comportamento é outra coisa, todos nós temos maus comportamentos às vezes. Isso é um crime, eu não consigo encontrar outra palavra para definir esse tipo de atitude", disparou ainda o médico.
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Segundo Drauzio, Bolsonaro é o "grande responsável" pela situação crítica em que o Brasil se encontra e classificou as atitudes do presidente como "demagogas".
"Qual o interesse desses demagogos todos? Eles pensam assim: está todo mundo cansado de ficar em casa, eu vou dizer que pode sair, que para com essa besteira de epidemia, não é assim também, não pega assim desse jeito, o vírus não é uma doença grave, se você pegar e tomar cloroquina tudo bem, você vai ficar bem, não vai acontecer nada com você. Percebe? Estão enganando a população, são demagogos, eles fazem isso porque acham que vão colher dividendos políticos para eles", pontuou.
Pior momento
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil vive o pior cenário já observado durante a pandemia. As taxas de ocupação de UTIs do sistema público estão acima de 80% em 17 capitais, mas muitas cidades já enfrentam 100% de ocupação dos leitos. Na quinta-feira (25), o país bateu o recorde de mortes registradas em um único dia: 1.582.
O médico e pesquisador Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, disse em entrevista a O Globo nesta sexta que há a possibilidade de um colapso nacional e exigiu um lockdown em todo o território nacional.