Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da USP (IMT-USP) sugere que seria arriscado reduzir de 15 para 10 dias a quarentena para casos leves e moderados de Covid-19. Essa medida foi recomendada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em outubro do ano passado.
No estudo, feito com pessoas infectadas pelo Sars-Cov-2 havia 10 dias, os pesquisadores encontraram o vírus ativo em 25% das amostras. Esse vírus seria capaz de infectar outras pessoas.
Os pesquisadores trabalharam com 29 amostras de secreção de nariz e faringe de pacientes com diagnóstico confirmado por teste de RT-PCR. O material foi coletado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Araraquara no décimo dia após o início dos sintomas e, em laboratório, inoculado em culturas de célula. Em sete delas, eles encontrável o que chamaram de vírus viável. Nessas amostras, o Sars-Cov-2 se mostrou capaz de infectar as células e de se replicar in vitro.
Em teoria, portanto, pessoas que tivessem contato com gotículas de saliva expelidas por 25% desses pacientes no período em que o material foi coletado ainda poderiam ser contaminadas.
A pesquisadora Camila Romano, do IMT-USP e do Hospital das Clínicas da USP, que participa do estudo, disse que o resultado surpreendeu, pela alta quantidade de amostras que continham vírus ainda ativos. “Em outros estudos em que o vírus tinha sido encontrado vivo dias depois da infecção, 16 ou até 18 dias depois, eram casos isolados, sempre com um porém, um paciente imunodeprimido, por exemplo”, afirmou.
Ela conta que o estudo foi iniciado em julho do ano passado e a ideia era exatamente entender por quanto tempo os vírus continuavam ativos em pacientes com casos leves a moderados, que não ficavam internados. Inicialmente, eram coletadas amostras de pessoas infectadas havia 14 dias. Com a mudança de prazo de quarentena recomendada pelo CDC em outubro, eles passaram a coletar amostras de pessoas que tinham apresentado sintomas havia 10 dias.
Um dado que chamou a atenção dos pesquisadores, conta Camila, é que dois dos sete pacientes em que o vírus estava ativo estavam totalmente sem sintomas. Ela lembra que, na recomendação do CDC, a ausência de sintomas era um dos itens a indicar que a pessoa poderia sair da quarentena. “Isso mostra que esse não pode ser um critério”, disse.
O estudo, apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foi publicado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares.
Camila contou que ele vai continuar: os pesquisadores vão coletar amostras de pacientes infectados há 11 dias, depois 12, e assim por diante, para entender a partir de quanto tempo o vírus passa a ficar inativo.