O spray nasal testado em Israel em pacientes com Covid-19 parece ser a nova prioridade do governo Bolsonaro. . O presidente tuitou nesta segunda-feira (15) dizendo que o produto será “brevemente” enviado à Anvisa para análise de uso emergencial. E seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também tuitou nesta segunda-feira que orientou a embaixada brasileira em Israel a “acelerar cooperação com o Brasil” no uso do medicamento EXOD24.
Mas, em entrevista à Fórum nesta terça-feira (16) sobre o tema, o infectologista Renato Grinbaum foi enfático: “Precisamos trazer vacina, e não uma nova cloroquina”.
Medicamento usado para tratar malária, lúpus e outras doenças, a cloroquina começou a ser testada no ano passado para tratar Covid-19. Mas não teve eficácia comprovada para esse fim. No entanto, Bolsonaro passou o ano inteiro defendendo sua aplicação em pacientes e diz que ele mesmo usou o medicamento quando teve a doença. O laboratório do Exército inclusive produziu comprimidos do remédio. Em contrapartida, o governo federal não negociou vacinas contra a Covid-19 em volume suficiente para imunizar sua população.
O teste do spray de Israel foi feito com 30 pacientes, de moderados a graves. Deles, 29 tiveram alta hospitalar em três a cinco dias. O reporte do Centro Médico Ichilov dá conta de que um de seus pesquisadores realizou o teste de fase 1 – a primeira das três fases de testes clínicos necessárias para atestar a eficácia e segurança de um medicamento. “Com 30 pacientes. Até água tem o mesmo resultado”, declarou Grinbaum.
O infectologista afirma que não existem ainda estudos científicos já sistematizados sobre o uso do medicamento. “Não existem. Nenhuma publicação. Inclusive sem estudos quanto a riscos e toxicidade”, alertou ele.
“Nenhum país, nenhuma sociedade médica adotou”, prosseguiu o especialista. “Ainda precisa estudos de segurança e eficácia para que se diga algo”, disse o médico. E alertou: “Nosso país não pode ficar repetindo o erro de transformar em prioridade algo que é meramente preliminar”.
Por causa disso, Grinbaum pede que o foco seja outro neste momento. “Temos a informação concreta de que precisamos de vacinas e infraestrutura hospitalar. Vamos focar no que é sério e necessário.”
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Para ele, “não é o momento de lançarmos informações incompletas para dividir e confundir”. Se um dia houver estudos mais completos sobre o spray, aí pode ser avaliado seu uso, disse o médico.