Em inquérito sobre pandemia, MP pede informações sobre fura-fila de médicos no Hospital das Clínicas

Reportagem do UOL mostra que alunos de medicina e funcionários em home-office estão entre os chamados pelo hospital para tomar a vacina contra o novo coronavírus

Vacinação de profissionais do Hospital das Clínicas de São Paulo (Foto Governo do Estado de São Paulo)
Escrito en CORONAVÍRUS el

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) enviou nesta quinta-feira (21) ofício ao secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, para que ele demonstre que os funcionários do Hospital das Clínicas de São Paulo vacinados contra o novo coronavírus são de fato profissionais que atuam na linha de frente do combate à Covid-19.

O ofício foi encaminhado devido à denúncia feita pelo UOL de que alunos de medicina e funcionários do hospital que não atuam na linha de frente estariam entre os vacinados. O jornalista Wanderley Preite Sobrinho teve acesso à lista dos servidores do hospital que seriam imunizados com a CoronaVac e também conversou com alguns deles. E descobriu que, além de profissionais fora da linha de frente estarem sendo vacinados, servidores que estão em home-office também foram convocados para a imunização.

Isso depois de Gorinchteyn ter declarado que nem todos os profissionais de saúde que estão na linha de frente poderão ser imunizados com as doses atualmente disponíveis, pelo fato de elas serem escassas.

Diante da denúncia, a promotora Dora Martin Strilicherk pediu as informações ao secretário, no âmbito do inquérito 132/2020, que apura a situação da Covid-19 no estado. E pede que as informações sejam repassadas em cinco dias.

No documento, a promotora pede que Gorinchteyn justifique o ocorrido no Hospital das Clínicas, comprovando que as pessoas que já foram vacinadas e as que estão em vias de serem imunizadas são de fato profissionais de saúde que fazem parte da linha de frente.

Dora ainda solicita que o secretário explicite as medidas que adotará para que os critérios não sejam burlados nas próximas distribuições de vacinas, tanto no HC e nos demais hospitais do Estado. Também questiona quais medidas serão adotadas administrativamente em relação ao HC pelo ocorrido.

Por fim, ela pede que o secretário também mostre quais os critérios de distribuição de vacinas entre os municípios e serviços de saúde do estado, quais os grupos que estão sendo priorizados diante da escassez de vacina e como vai fiscalizar que está tudo sendo cumprido.

Outro lado

Procurada pela Fórum, a Secretaria Estadual da Saúde informou, por sua assessoria de imprensa, disse que foi notificada pelo MP-SP e que “prestará todos os esclarecimentos necessários dentro do prazo”.

Segundo a pasta, no momento, “a recomendação é que sejam vacinados os profissionais da linha de frente de Covid. Novas remessas serão destinadas aos municípios à medida que o Ministério da Saúde viabilizar mais doses”.

A secretaria informou que o HC já reportou ter imunizado 24 mil pessoas, o que corresponde a 60% do seu corpo de trabalhadores do complexo, e que verificará eventuais inadequações nos procedimentos de vacinação

Na nota, a secretaria informa que a campanha de vacinação contra Covid-19 tem como referência o número de pessoas imunizadas contra a gripe em 2020 indicado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Assim, o Ministério da Saúde utiliza este critério para envio Estados, e o mesmo ocorre em SP para redistribuição às prefeituras.

O Estado de São Paulo aplicou 1,5 milhão de doses da vacina de Influenza no ano passado. No entanto, segundo a pasta, para a campanha de Covid-19, até o momento o ministério disponibilizou a SP apenas 1,3 milhão de doses - a serem aplicadas em duas etapas, podendo assim imunizar pouco mais de 650 mil pessoas. “Consequentemente, o mesmo critério precisou ser adotado de forma equânime para todas as 645 cidades de SP”, escreveu.

Em nota enviada à Fórum, o Hospital das Clínicas disse que tem cerca de 40 mil colaboradores, entre servidores, celetistas e terceirizados. O complexo é composto por oito institutos que atendem casos de alta complexidade em diversas especialidades, incluindo urgência e emergência no seu PS.

O hospital, referência para o tratamento de Covid-19, disse que foram priorizados os profissionais com cadastro de trabalho ativo e com maior potencial de exposição à doença.

A instituição informa que recebeu 28 mil doses, vacinando cerca de 24 mil pessoas, “ou seja, 60% de todo o corpo de colaboradores do complexo”. Por fim, o HC diz que vai “verificar se houve inadequações nos procedimentos de vacinação”.

Leia a reportagem do UOL com as denúncias aqui.

Atualizado com a nota do Hospital das Clínicas