Os médicos Mauro Pontes e Julio Pereira Lima, que trabalham no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, enviaram um texto à revista científica The Lancet, publicado neste sábado (19), atacando um editorial de maio de 2019, em que a publicação inglesa - uma das referências mundiais na divulgação de estudos relacionados ao coronavírus - critica a reação do governo Jair Bolsonaro na pandemia.
"Foi decepcionante ler o Editorial sobre a resposta do Brasil ao Covid-19, criticando o presidente brasileiro que 'desencorajou [ed] as medidas sensatas de distanciamento físico e bloqueio'. Sim, ele insistiu que o bloqueio é ineficaz e terrível para a economia", escrevem os médicos, subscritos por diversos colegas, na mesma linha do discurso de Bolsonaro.
Júlio Pereira Lima é uma das fontes citadas por Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania que postulou a pasta da Saúde prevendo inicialmente que a pandemia mataria cerca de 2,1 mil pessoas, menos que a chamada gripe suína (H1N1).
"Trecho de artigo do Dr. Julio Pereira Lima, um dos mais renomados médicos brasileiros, com um currículo científico de vanguarda,sobre a manipulação da palavra ciência e de como isso levou a erros inacreditáveis no enfrentamento à Covid 19, no Brasil e no RS", tuitou Terra em 19 de julho, compartilhando trecho em que o médico critica o distanciamento social.
Nada contra o governo de esquerda
No texto ao The Lancet, os médicos bolsonaristas explicitam o viés político partidário ao escrevem que "The Lancet não publicou nada contra o governo de esquerda brasileiro, que priorizou estádios de futebol em vez de hospitais", em relação aos estádios feitos para a Copa do Mundo de futebol em 2014.
Por fim, os médicos acusam o editor do Lancet, Richard Horton, de escrever sobre "viés político".
"Como médicos brasileiros, damos a vocês uma resposta clara: o Editor do The Lancet deve abandonar o viés político, se retratar do Editorial, e focar na ciência, ou então ele 'deve ser o próximo a ir'".
Leia ao texto na íntegra
Resposta COVID-19 do Brasil
Por Mauro RN Pontes e Julio Pereira Lima
Foi decepcionante ler o Editorial sobre a resposta do Brasil ao COVID-19, criticando o presidente brasileiro que “desencorajou [ed] as medidas sensatas de distanciamento físico e bloqueio”. Sim, ele insistiu que o bloqueio é ineficaz e terrível para a economia.
As evidências sugerem que ele estava certo. Um estudo europeu concluiu que o bloqueio pode não ter salvado vidas.
Um estudo brasileiro descobriu que um aumento de 1,0% na taxa de desemprego estava associado a um aumento de 0,5% na mortalidade por todas as causas.
A taxa de desemprego esperada (23%) causaria 120 mil mortes no Brasil, segundo projeções dos autores.
Portanto, o governo brasileiro implementou medidas de proteção; distribuiu US $ 5,6 bilhões às cidades, estados e diretamente à população por meio de um salário de salvamento de emergência; criaram leitos para unidades de terapia intensiva; e entregou equipamentos de proteção e ventiladores. Esta resposta mostra um “vácuo de ações políticas”?
Até o momento, o Brasil está se saindo melhor do que o Reino Unido em resposta à pandemia COVID-19. Os casos, óbitos e taxas de letalidade do COVID-19 ajustados pela população são muito mais elevados no Reino Unido do que no Brasil. O Lancet deveria criticar seu próprio país, antes de criticar o nosso.
Sentimos que o preconceito abundou durante a editoria de Richard Horton, incluindo o imbróglio da vacina MMR (colocando a vida das crianças em risco) e a correspondência incendiária sobre a situação em Gaza.
O Lancet elogiou a resposta chinesa à pandemia de COVID-19, mesmo depois que a China foi acusada de encobrir a propagação inicial e a transmissão de humano para humano de COVID-19. O Lancet foi mais duro com o Brasil, sugerindo que deveríamos expulsar o presidente de sua cadeira.
Desconsideramos seu editorial desinformativo, que sentimos ser claramente tendencioso contra nosso governo de direita. Infelizmente, The Lancet não publicou nada contra o governo de esquerda brasileiro, que priorizou estádios de futebol em vez de hospitais.
Como médicos brasileiros, damos a vocês uma resposta clara: o Editor do The Lancet deve abandonar o viés político, se retratar do Editorial, e focar na ciência, ou então ele “deve ser o próximo a ir”.
Supporters: Prof Tulio M. Graziottin, MD, PhD Prof Florentino Mendes, MD, PhD Profa Julia Pereira Lima, MD, PhD Prof Sergio Zylberstein, MD, MSc Prof Newton Aerts, MD, PhD Profa Leticia Pires, MD, PhD Profa Tatiana Tourinho, MD, PhD Prof Nilon Erling Jr, MD, PhD Prof Renato A. K. Kalil, MD, PhD, FACC, FAHA Prof Nicolino Cesar Rosito, MD, Me, PhD Prof José Artur Sampaio, MD, PhD Profa Cristiane Kopacek, MD, PhD Prof Claudio Telöken, MD, PhD Prof Paulo R. O. Fontes, MD, PhD Profa Mirela Foresti Jimenez, MD, PhD Prof Fabio Luiz Waechter, MD, PhD Profa Arlete Hilbig, MD, PhD Profa Marlise de C. Ribeiro, MD, PhD Profa Leticia Viçosa, MD, PhD Profa Raquel Dibi, MD, PhD Profa Lenara Golbert, MD, PhD