Em entrevista publicada nesta terça-feira (21) pela BBC, o infectologista brasileiro Pedro Folegatti contou sobre o desafio que significa para ele ser um dos principais estudiosos por traz do projeto desenvolvido pela Universidade de Oxford de uma vacina para o novo coronavírus, o qual é visto como um dos mais promissores na busca por uma solução científica que produza o fim da pandemia.
“Este é o maior desafio da minha carreira”, assegura o cientista, que explica como tem sido a rotina dos últimos dias: “temos trabalhado dia e noite, fim de semana, feriado, e isso desde o final de fevereiro, para fazer esses ensaios clínicos acontecerem. Eu chego a dormir apenas 4 horas por dia”.
Sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro, mas utilizando um conceito dele como referência, Folegatti também reclama daqueles que menosprezam a gravidade da pandemia de covid-19. “É importante que as pessoas sejam conscientes de que não é só uma gripezinha, não é só um resfriado, existem milhares de vidas perdidas por conta dessa doença”, alerta o cientista.
Folegatti é mestre em saúde pública e se especializou em projetos sobre doenças tropicais, infecciosas e parasitárias, pelos quais já trabalhou em diferentes estados do Brasil e em países como Tanzânia, Uganda e Reino Unido, antes de se tornar um dos cientistas do Instituto Edward Jenner, na Universidade de Oxford.
O cientista também comenta sobre os resultados positivos dos primeiros exames clínicos realizados com a vacina, que foram publicados nesta segunda. “A vacina mostrou que é segura, ao não induzir efeitos colaterais graves em nenhum dos 1077 participantes que foram recrutados (...). E sabemos que, sim, existem diversos anticorpos sendo induzidos por uma ou duas doses da vacina. A qualidade desses anticorpos é boa, no sentido de que ela não só existe em quantidade suficiente, mas também é capaz de neutralizar o vírus. E induz também outro pedaço da resposta imune, que chamamos de imunidade celular por linfócito T”, explica.
Ele conta qual é a expectativa para a última fase de exames clínicos, que será realizada no Brasil, com cerca de 5 mil voluntários. “Agora, o passo que precisa ser dado é saber se essa resposta imune que é induzida pela vacina é suficiente para garantir proteção contra o coronavírus”, conclui.
Finalmente, Folegatti fala sobre o que pensa dos movimentos antivacina, que surgiram no mundo nos últimos anos, ajudados pelas ferramentas disponibilizadas pelas redes sociais. “O fato de uma pessoa escolher não se vacinar ou não usar uma máscara não é uma escolha individual e repercute de forma bastante significativa na sociedade como um todo. Essas coisas se traduzem em aumento de custos no sistema de saúde e fundamentalmente em milhares de vidas perdidas”, comenta.