Uma reportagem publicada nesta terça-feira (16) pelo jornal estadunidense Washington Post se somou a longa lista de textos jornalísticos que apontam o governo de Jair Bolsonaro como o que tem realizado a pior reação com respeito à pandemia do novo coronavírus.
A matéria, assinada pelo jornalista Terrence McCoy, possui um título bem longo, porém correto, e lapidário: “Brasil ignorou os avisos. Agora, enquanto outros países se preocupam com uma segunda onda de coronavírus, (o Brasil) não consegue superar nem a primeira”.
No texto, McCoy reconstitui as ações – ou falta delas, segundo o autor – do presidente Jair Bolsonaro desde que o surto se iniciou no Brasil, que resumiu com o termo “política de não fazer nada”. Lembrou desde as brigas com os governadores e prefeitos até o que considera sua única política de Estado com relação à doença: a aposta na cloroquina como cura segura, apesar dos estudos internacionais indicando o contrário.
“Jair Bolsonaro, que continua a rejeitar a doença e suas vítimas, optou por uma política de não fazer nada. Atacou governadores que defendiam medidas restritivas como mentirosos corruptos, se juntou a uma multidão de simpatizantes, desafiando as advertências de seus conselheiros e ameaçou fazer um grande churrasco, apesar das recomendações de saúde pública”, descreve.
A reportagem do Washington Post também afirma que o governo de Bolsonaro, “não é capaz de organizar um plano unificado para enfrentar pandemia”, e também destacou o fato de o Brasil estar reabrindo seu comércio no momento em que registra seu número mais alto de infecções e mortes diárias, contrariando o que fizeram outros países, que só mudaram suas políticas quando houve uma clara diminuição da curva de contágios.
“O que está acontecendo parece ser globalmente único. Apesar dos números crescentes, as autoridades não implementaram medidas que foram amplamente bem-sucedidas em outras partes do mundo. Não houve um bloqueio nacional. Nenhuma campanha nacional de testes. Nenhum plano coordenado. A expansão dos cuidados de saúde foi insuficiente. Em vez disso, as cidades mais atingidas estão abrindo as portas dos shoppings e das igrejas, mesmo com o país registrando mais de 30 mil novos casos por dia – cinco vezes mais do que a Itália relatou no auge de seu surto”, relata o jornal estadunidense.
Em seguida, o diário menciona uma pesquisa da Universidade de Washington, que traz uma previsão sombria para o Brasil, justamente em função dessa abertura prematura do comércio: segundo o centro de estudos, o país poderia perceber um aumento em suas estatísticas a partir de julho, e chegar a uma média de 4 mil mortes por dia, o que levaria o país a ultrapassar os Estados Unidos em número total de mortes dentro de um mês.
A reportagem também compara as “semelhanças entre Estados Unidos e Brasil, dois países de tamanho continental, com extrema desigualdade e presidentes populistas”.