Segundo reportagem da Folha nessa terça (7), assinada por Thaiza Pauluze, há duas semanas que Paula Renata dos Santos, 30, e seus quatro filhos, acordam tarde para pular direto para o almoço, já que falta dinheiro para o pão. A família tem feito duas refeições por dia com o mesmo cardápio: arroz, feijão e ovo.
"Se não morrer do vírus, morre de fome", diz a mulher, com zero reais em sua conta bancária e zero esperança de que o governo cumpra o prazo para liberação do dinheiro. "Essa demora não me espanta, nunca consegui ajuda do governo."
Ela é uma das mães solo aguardando o auxílio emergencial paraconseguir alimentar seus filhos.
Foi liberado, mais cedo nessa terça (7), o auxílio emergencial prometido pelo governo. Conforme a lei, quem pode receber o auxílio são aqueles que não tem emprego formal ou são MEI (microempreendedor individual), não recebem benefício do INSS ou seguro-desemprego e tenham renda familiar, por pessoa, de até meio salário mínimo ou renda mensal familiar de até três salários mínimos.
As mães solo e que são chefes de família recebem em dobro terão direito a até R$ 1.200 por mês. Inicialmente, o benefício será pago por 3 meses.
A favela do Nove, na zona oeste de São Paulo, onde Paula e seus filhos moram, foi castigada pela enchente que ocorreu em várias regiões de SP em fevereiro, e ao menos 270 famílias perderam tudo. Devido aos prejuízos da chuva, muitas mães solo não conseguem mais trabalhar devido ao isolamento.
Eliane dos Santos, 25, fica o dia sentada do lado de fora de seu barraco em uma cadeira de plástico com a filha de seis meses. Pergunta da se não tem medo de pegar o novo coronavírus, ela mostra onde vive: o espaço mal acomoda a cama de casal, a geladeira, o fogão, um guarda-roupas e uma cômoda. Nenhuma janela.
"Não dá pra ficar lá o dia todo, não tem ventilação, é apertado. Saio para fora confiando em Deus", diz Eliane, que ganha 178 reais do Bolsa Família. "Tá faltando a mistura, coisa de higiene, fralda, roupinha pro neném, que essas já estão ficando apertadas."
Rafaela dos Santos, 36 anos 3 filhos, recebia 500 reais por mês para trabalhar num salão como manicure. Com o salão fechado, está sem renda.
Felizmente, recebeu uma cesta básica e vai consegui alimentar os filhos nos próximos dias. Tem arroz, feijão, farinha, farofa, macarrão, óleo, molho de tomate, açúcar, leite, ervilha, café e sardinha. A escola onde a filha de Rafaela estuda também enviou itens de limpeza: álcool em gel, desinfetante, detergente.
Grazielle Cristina Beraldo, 34 anos, 7 filhos, recebia da prefeitura, até março, um auxílio-aluguel de 400 reias, mas o benefício foi cortado. Ela não recebe o Bolsa-Família. O pai das crianças, caminhoneiro, ajuda como pode.
Na favela do Nove já há 2 casos suspeitos do novo coronavírus.