Além de ser o país com mais número de mortes (10,8 mil, um terço das vítimas totais da pandemia), a Itália também é o país que tem mais casos de médicos e enfermeiras infectados e mortos pelo covid-19.
Segundo números do Ministério da Saúde da Itália, cerca de 6,4 mil profissionais da saúde já foram infectados pelo vírus, o que significa 8% do total de casos em todo o país.
A situação tem causado indignação em muitos profissionais. O médico Irven Mussi, publicou recentemente uma série de mensagens que trocou com seu colega Marcello Natali, que faleceu no começo deste mês, enfrentando a doença, e agregou a essa atitude um protesto contra o governo italiano. “O que está acontecendo não é por acaso. Fomos enviados para a guerra sem nenhuma proteção. Os soldados de infantaria pelo menos usam capacetes”.
Em entrevista ao Estadão, Mussi revelou que Natali não foi o único amigo que perdeu na batalha que ele e outros profissionais da saúde estão enfrentando contra a pandemia.
“Todos os dias somos informados de um colega que se foi. Na semana passada, morreram dois dentistas. Outro dia, perdi um primo e minha irmã está internada (…) Estamos com raiva. O governo nos abandonou, não nos forneceu dispositivos de proteção. Quisemos comprá-los com nosso dinheiro, mas as máscaras estavam em falta em todos os lugares”.
Outro drama que o país tem vivido é o das enfermeiras que se suicidaram por após serem contaminadas. Um desses casos é o de Daniela Trezzi, de 34 anos, que trabalhava em um hospital em Monza, uma das cidades com mais casos no país. Ela deu positivo em seu exame dias atrás, e não suportou a culpa por acha que havia infectado outras pessoas, e se matou.
Não foi o único caso: em Veneza, outra enfermeira também se suicidou, pelo menos motivo. A matéria do Estadão, assinada pela correspondente Janaína Cesar, também traz o relato de R., uma enfermeira italiana que explica essa situação. “Nessas condições de estresse, falta de pessoal e material, tenho medo de me contaminar e que eu contamine meu marido, que é do grupo de risco e está em casa”, conta a profissional da saúde.