55% dos que receberam vermífugo e 45% dos que tomaram placebo tiveram redução de coronavírus

Resultado de pesquisa financiada pelo governo foi publicado em jornal científico; em evento sobre o estudo, Bolsonaro apresentou gráfico de banco de imagens

Jair Bolsonaro e o ministro Marcos Pontes (MCTIC) na apresentação dos resultados do estudo sobre Anitta (Foto Reprodução/TV Brasil)
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Um estudo coordenado e financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação sobre a eficácia do vermífugo nitazoxanida no tratamento de Covid-19 mostrou que 55% dos voluntários que receberam o medicamento tiveram redução de carga viral. Mas 45% daqueles que tomaram um placebo também perceberam uma queda na quantidade do novo coronavírus medida em exames.

O resultado foi publicado no European Respiratory Journal (veja a íntegra nesse link). Segundo ele, de 1.575 voluntários, 392 contraíram coronavírus. Entre esses, 198 receberam placebo e 194 foram medicados com nitazoxanida – que tem o nome comercial Anitta.

O percentual de voluntários com redução de carga de vírus no grupo dos que tomaram o Anitta ficou próximo daquele registrado entre os que não o tomaram. Apesar disso, o estudo destaca o fato de ele ser maior entre aqueles que foram medicados.

O uso do vermífugo vinha sendo defendido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. O estudo foi coordenado pela pasta.

O ministério divulgou em seu site a publicação do estudo em uma revista científica. No texto, destaca que ele “confirma que o antiviral nitazoxanida é capaz de reduzir a carga viral em pacientes com até 3 dias de confirmação da doença no organismo”. E ainda há uma declaração de Pontes, considerando a publicação “um presente de Natal da ciência brasileira para o mundo”.

No entanto, essa divulgação não traz os percentuais de eficácia constatados nem sua comparação com aqueles que receberam uma substância inócua no tratamento.

Imagens de banco de dados

Em outubro, o estudo chegou a ser anunciado em evento no Palácio de Planalto. Na época, houve um vídeo para apresentar a pesquisa que trouxe um gráfico extraído do banco de imagens Shutterstock para aparentemente mostrar os resultados positivos dos efeitos do Anitta.

O gráfico de barras animado em tons de azul tinha uma seta apontando para dados em queda. Ele não trazia números ou indicações. Quando os dados começam a aparecer, a legenda é “Comprovado cientificamente, reduz a carga viral, fase precoce”. Quando chega ao menor valor, aparece a inscrição: “Nitazoxanida é eficaz”.