A vacina contra o novo coronavírus que está sendo desenvolvida pela Universidade Oxford com o laboratório AstraZeneca será fabricada, mesmo no Brasil, com insumos chineses. A afirmação foi feita pelo diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, em entrevista à CNN nesta quinta-feira (22).
O imunizante é o “preferido” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entre os desenvolvidos e em teste atualmente no país. No Brasil, quando for aprovado, o produto será fabricado pela Fiocruz.
“A vacina de Oxford irá trabalhar com insumos farmacêuticos vindos da China”, disse Torres à CNN. “O insumo farmacêutico é a farinha que faz o pão, ele é a base da vacina, um substrato básico. Hoje, no mundo, é quase impossível ter um produto feito 100% em um país, essa noção pertence ao passado”, afirmou ele à emissora.
A informação pode ser mais um componente na “guerra das vacinas” contra a Covid-19, que opõe Bolsonaro e Doria. Na terça-feira (20), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, declarara que o governo iria comprar 46 milhões de doses da CoronaVac quando ela for aprovada.
A intenção, no entanto, foi vetada por seu chefe.
Na quarta-feira (21), o titular do Planalto disse que seu governo não comprará a CoronaVac, dose desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. Ela é testada no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista de João Doria (PSDB). Ela foi chamada por Bolsonaro de “a vacina chinesa de João Doria”. O Butantan vai fabricá-la no país quando estiver aprovada.
“A (vacina) da China nós não compraremos. É decisão minha”, disse ele na entrevista. Resta saber se vacinas fabricadas com insumos chineses serão igualmente vetadas.
Guerra das vacinas
Há uma disputa velada entre Doria e Bolsonaro no caso das vacinas contra o novo coronavírus. Cada um “apadrinhou” um imunizante entre os que estão sendo testados no Brasil. A avaliação é que aquele que for aprovado e aplicado primeiro trará ganho político a seu “mecenas”.
No caso de Doria, ele próprio traz executivos da Sinovac ao Brasil, mostra doses da vacina e abre espaço em suas entrevistas coletivas no Palácio dos Bandeirantes para que a evolução dos testes seja relatada. Em uma delas, assinou o protocolo de intenções de compra das doses quando estiverem aprovadas. Chegou a cravar a data de 15 de dezembro para início da imunização, mas agora ela foi descartada.
Já Bolsonaro não é tão ostensivo, mas seu governo já investiu recursos nos testes da vacina Oxford/AstraZeneca e é só dela que ele fala quando menciona pesquisas em desenvolvimento.