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No último sábado (02), militantes do movimento negro e ativistas feministas se uniram para convocar um ato de protesto contra a companhia de teatro Os Fofos Encenam, que fará apresentação de duas peças no espaço Itaú Cultural, a partir do dia 12 de Maio. O motivo do repúdio é o uso de "blackface", uma pintura que imita pessoas negras de forma caricata e debochosa.
[caption id="attachment_818" align="alignleft" width="300"] Centenas de pessoas manifestam repúdio nas redes sociais (Imagem: Reprodução / Facebook )[/caption]
Em nota publicada na página do evento, a companhia de teatro afirmou que "a máscara do negro foi forjada por todos os circos e em todos eles apresenta as mesmas características", numa tentativa de justificar seu uso e afastar as acusações de racismo. Enquanto é verdade que o blackface é algo antiquíssimo, utilizado amplamente, esse argumento não anula o racismo inerente à prática; pelo contrário, prova que o racismo está enraizado em nossa sociedade.
Os Fofos Encenam não são os únicos criticados recentemente por fazerem uso do blackface. Há muita gente que ainda se utiliza da caricatura da mulher negra como forma de piada. E há exemplos bem conhecidos como, por exemplo, o programa Zorra Total, da Rede Globo, que por muito tempo exibiu um quadro onde um homem se fantasiava de mulher negra, pintando a pele, utilizando cabelos crespos e intensificando o deboche com dentes podres, fala "errada" e roupas "de pobre".
Tudo isso mostra que o Brasil continua extremamente racista. O racismo pode até ser crime na teoria, mas na prática a situação é bem distante do ideal; mesmo diante de denúncias e protestos, ninguém é punido por debochar explicitamente das características físicas negras e representar pessoas negras como burras, sujas, loucas, entre outras características que traçam uma linha de separação entre a negritude e a branquitude.
É necessário debatermos sobre a prática do blackface e resgatarmos sua origem histórica, para que as pessoas compreendam que essa prática sempre foi embasada em racismo. Além disso, precisamos perder o medo de manifestar o desconforto e expressar a reprovação que sentimos quando vemos pessoas negras sendo tratadas como objetos de escárnio. Quem pratica o blackface e quem se diverte com isso vai tentar resistir, isentando-se da responsabilidade e até mesmo ameaçando quem protesta contra essa prática; mas somente por meio do embate político, do protesto e das discussões o tema poderá ser pautado em sociedade.
Leia sobre a origem do blackface clicando aqui.
Foto de capa: Reprodução / Peça da companhoa Os Fofos Encenam