Como é que se manifestam aqueles que querem reagir aos abusos Israelenses através das artes? Em específico, como querem e podem reagir as mulheres Palestinas?
"Em face dum complexo jogo entre seu passado de colonizados como Palestinos, a opressão patriarcal por serem mulheres, e as possibilidades abertas de emancipação pelo engajamento com causas nacionalistas, além do envolvimento íntimo em questões domésticas, como é que mulheres Palestinas formulam e apresentam resistência política em sua escrita?"
[caption id="attachment_81" align="alignright" width="320"] Poeta Fadwa Tuqan[/caption]Nos últimos meses os Territórios Palestinos voltaram às manchetes dos principais jornais do mundo. A promoção dos Territórios a Estado observador na ONU, a decisão da União Europeia de não apoiar projetos israelenses em assentamentos ilegais na Cisjordânia e em Gaza, e as recentes iniciativas dos Estados Unidos de retomar o diálogo entre Israel e Palestina, através de John Kerry, foram alguns dos fatos que colocaram aquela região e seu povo mais uma vez em evidência.
Como se sabe, apesar da recente libertação de vários palestinos condenados por atos de terrorismo, gesto aparente para amenizar sua política externa, os abusos por parte do Estado de Israel continuam os mesmos: aumento do número de assentamentos ilegais, construção de muros delineando novas fronteiras que não aquelas dos acordos de 1967, truculência cotidiana nos chamados “checkpoints” amplamente denunciada pela Anistia Internacional.
Diante de tanta pressão política e econômica em seu dia-a-dia, como é que se manifestam aqueles que querem reagir através das artes? Em específico, como querem e podem reagir as mulheres? A pesquisadora Anna Ball coloca a questão da seguinte forma: “Em face dum complexo jogo entre seu passado de colonizados como Palestinos, a opressão patriarcal por serem mulheres, e as possibilidades abertas de emancipação pelo engajamento com causas nacionalistas, além do envolvimento íntimo em questões domésticas, como é que mulheres Palestinas formulam e apresentam resistência política em sua escrita?” [1]
Se o cinema recentemente deu voz à realidade das mulheres da palestina vivendo sob uma ocupação violenta e ilegal com os títulos “Cinco Câmeras Quebradas” ou “O Ataque” [2], a literatura tem sido menos comentada em círculos de não especialistas.
Algumas vozes palestinas são eloquentes ao responder como se sentem frente ao triplo abuso a que são submetidas: por serem colonizadas, por oficialmente não terem pátria, e por serem mulheres em uma sociedade marcadamente patriarcal. Fadwa Tuqan responde da seguinte maneira:
Chega pra mim Chega de morrer na terra dela de ser enterrada nela de derreter e sumir no solo dela e de brotar depois como flor manuseada por uma criança do meu país.
Chega pra mim de continuar a apoiar meu país a estar perto dela como uma mão cheia de poeira um ramo de mato uma flor. [3]
Ou ainda:
[...]
Diga ao usurpador da nossa terra que dar à luz é uma força desconhecida para ele, a dor do corpo de uma mãe, que a terra e suas cicatrizes inaugura a vida no nascer do sol quando a rosa de sangue germina sobre a ferida. [4]
Literatura do Oprimido nos versos da Poeta Fadwa Tuqan.
[1] Ball, Anna. Palestinian Literature and Film in Postcolonial Feminist Perspective. New York: Routledge, 2012.
Minha tradução. Citação na página 47.
[2] Ver artigo sobre “The Attack” em https://revistaforum.com.br/
[3] [4] Minhas traduções de “Enough for me to die on her earth” e “Labor Pains”, na tradução de Naomi Shihab.
http://www.poemhunter.com/