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O Brasil dominou a maior parte do jogo, jogou melhor (o que não quer dizer que jogou bem), atacou mais e merecia a vitória, mas futebol não é assim. O domínio não foi tranquilo, a Croácia apresentou bom futebol, levou perigo ao gol brasileiro, fechou suas linhas para segurar a vitória parcial e quase estragou a festa preparada para a Seleção Brasileira na estreia. O 3 a 1 não retratou a dureza do jogo para o Brasil.
O Brasil começou mal a partida. O nervosismo era evidente. Jogo de futebol se ganha combinando diversas variáveis, as mais importantes são o nível técnico dos jogadores disponíveis, a força mental ou psicológica da equipe e a estratégia e a tática utilizada. Nessa ordem. Falarei disso em outro texto. Voltemos ao jogo.
A Seleção Brasileira joga no 4-2-3-1. Este esquema se altera muitas vezes durante o jogo quando o time libera os laterais para atuar como alas e recua Luiz Gustavo para jogar entre os zagueiros, que passam a atuar mais abertos. Em tese, o time ganha mais um jogador nas beiradas do campo para fazer o “dois contra um” contra os laterais adversários. Marcelo atua junto com Hulk ou Neymar pela esquerda e Daniel Alves com Oscar pela direita.
Entretanto, o Brasil comete um erro que cobraria seu preço mais cedo ou mais tarde. Cobrou logo na estreia. O fato é que o Brasil atua com Luiz Gustavo executando uma função tripla: primeiro-volante, terceiro zagueiro que faz a cobertura de David Luiz e Thiago Silva e jogador que faz a saída de bola da Seleção. O problema é a terceira função. Isso é grave.
É grave principalmente quando se tem que buscar um resultado e o outro time está jogando atrás, retrancado. Embora seja bom marcador, Luiz Gustavo é limitado tecnicamente para fazer a saída de bola e, contra um time retrancado, a armação. Aí temos o segundo grande problema da Seleção Brasileira: não ter um armador recuado.
Paulinho é um segundo-volante carregador de bola, ou seja, seu forte não é o passe, a busca pelo companheiro melhor colocado. Neymar pode fazer essa função de armador também, mas nesse caso perde-se um finalizador de alto nível lá na frente. Oscar é o jogador que mais se aproxima de um armador na Seleção, embora tenha gosto por carregar a bola.
Foi quando Oscar, Neymar e Paulinho começaram a recuar para fazer a saída e a armação que o Brasil começou a jogar melhor. O fato de a Croácia ter começado a jogar (e não apenas se defender, como fez após abrir o placar) depois do gol de empate também ajudou. O campo ficou maior.
A Croácia jogou no 4-4-2 em linha. Isto é, os jogadores de defesa meio-campo e até de ataque jogavam paralelamente. O time se defendia com todos os jogadores atrás da linha da bola. Isso até levar o gol de empate. Olic, o meia pela esquerda da linha de quatro do meio-campo, era o mais agudo. Foi praticamente um terceiro atacante pela esquerda (melhor que os centralizados, Jelavic e Kovavic) e jogou sempre nas costas de Daniel Alves, que estava perdido na marcação. Nesse ponto, foi importante ter Luiz Gustavo como o jogador da sobra de Thiago Silva, que não foi bem.
Perisic, o meia pela direita, pouco incomodou o lateral-esquerdo Marcelo que, por sua vez, não foi tão incisivo como de costume. E poderia, já que David Luiz fez uma boa partida pela esquerda da zaga. O gol contra de Marcelo foi acidental e ele não ficou abalado com o fato.
O destaque da Seleção Croata foi o miolo da linha de quatro, com Modric e Rakitic. Para entender como jogam, pensem num segundo-volante armador. Tocam bem a bola, controlam o jogo e acham os companheiros desmarcados. São ótimos tecnicamente e provam que não se precisa de volantes exclusivamente de marcação para jogar naquela posição. Desde que todo o time ajude na marcação, evidentemente.
Pra finalizar, algumas observações: não foi pênalti, Oscar foi o melhor jogador da partida, Neymar é decisivo, Modric é um meia acima da média, Daniel Alves não se firma na Seleção Brasileira (Maicon deve assumir a vaga ao longo da competição), Paulinho jogou mal, Fred jogou mal e Willian é o novo Ricardinho de Felipão.