Há três meses vivemos dias em que não sabemos o que nos espera no amanhã. Pelo descompromisso do governo federal de não priorizar a proteção da vida dos brasileiros e na divulgação nada transparente dos casos suspeitos e confirmados de Covid-19, vivemos no escuro na maior tragédia humana já registrada. Viver na ansiedade da esperança de uma luz no fim do túnel nos sufoca, os brasileiros se sentem desamparados pela falta de compromisso do governo Bolsonaro.
Mudamos nossas rotinas, adaptamos nossas vidas para viver aquilo que chamamos agora de “novo normal”. Após esse longo período não nos causa mais estranheza sair de casa com máscara ou nos sentirmos reféns do álcool em gel, a consciência do quanto essas atitudes podem fazer a diferença se tornou muito maior. Além disso, percebemos o quanto o distanciamento social é fundamental para barrarmos a transmissão da doença.
O tema em destaque no momento é a retomada das atividades econômicas no país, isso sem a redução sustentada de casos suspeitos e confirmados de coronavírus. Vamos ao debate sobre o tema.
Sempre digo que defendo uma retomada com critérios e de forma planejada, por isso, apresentei na Câmara dos Deputados o projeto de lei “Protege Brasil” que prioriza a proteção à vida, a transparência dos dados e a possibilidade do planejamento das ações. Ele possui quatro fases e, em todas elas, para iniciar a reabertura gradual das atividades as regiões deverão manter por 14 dias consecutivos a redução de casos suspeitos e confirmados para passar de uma fase para outra.
A reabertura das atividades comerciais e de circulação de pessoas só será possível se os governos garantirem proteção à vida com monitoramento e transparência dos dados de casos suspeitos e confirmados, a divulgação da taxa de ocupação dos leitos hospitalares e o acompanhamento das famílias por uma equipe do programa Estratégia Saúde da Família com médico e agentes comunitários para que sejam mapeadas as pessoas de risco.
A frota do transporte coletivo e a infraestrutura nas escolas com oferta de mais lugares para lavar as mãos, janelas abertas, número adequado de crianças por sala e qualificação dos professores precisam ser ampliadas. Os espaços públicos devem ofertar mais locais para higienização das mãos e a rede hoteleira – que está vazia – deve abrigar os mais vulneráveis que não possuem a oportunidade do distanciamento e isolamento adequado.
As empresas e o comércio precisam reabrir para a garantia de renda das famílias. Mas, mais uma vez, alerto: isso só será possível se fizermos de forma planejada para que evite o efeito sanfona da reabertura e logo depois, com ascensão do número de casos, a necessidade de fechamento. Se isso permanecer acontecendo, como vemos em algumas cidades do estado de São Paulo e do Brasil, ninguém vai acreditar mais se é para abrir ou fechar, aglomerar ou distanciar.
Para recuperamos a economia, o empresário precisa ter tranquilidade e segurança de que sua empresa ou comércio não tenha que fechar uma semana depois que reabriu. Isso porque para recuperar suas atividades as empresas terão que investir mais na proteção de seus trabalhadores e se o estabelecimento for de acesso ao público, de seus consumidores. Terão que garantir equipamentos de proteção pessoal e também em todos os ambientes do estabelecimento. Se necessário, deverão garantir transporte a seus trabalhadores, implementar horários alternativos para evitar picos de aglomeração e fazer parcerias de proteção com outras empresas ou comércios locais.
Para o mundo voltar a investir e viajar para o Brasil, precisamos mostrar que temos segurança, que somos capazes de controlar a pandemia, que defendemos a vida e que estamos aptos a impedir a contaminação desenfreada. Governos, empresas e comércios devem fazer sua parte. Mas, todos nós devemos nos responsabilizar para que isso seja possível. Quando falamos de responsabilidade de todos é responsabilidade de cada um. Quando um menospreza o risco da maior pandemia da nossa história, está colocando em risco não apenas a sua vida, mas de todos sobretudo de quem ama. O Brasil vai voltar a respirar, quanto mais cada um de nós, cada gestor público, cada empresário, cada comerciante, fizer a sua parte, mais oxigênio teremos para resistir e vencermos, juntos, essa batalha.
*Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.