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Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2019
Pai,
Esta semana lembrei daquele nosso jantar. Aquele, com a Elis! Eu tinha 11 anos e já era fã dela. Sabia todas as músicas do “Falso Brilhante” de cor.
A gente saiu e você não me contou nada, até ela entrar no carro. Ela foi tão bacana que o meu nervosismo passou rápido. Lembro que não sabia se comia ou ficava olhando pra ela!
E, pra terminar, ainda voltei pra casa com um LP do “Bêbado e a Equilibrista”, que ela me deu, e guardo com carinho, até hoje! Só não lembrei de pedir uma dedicatória, mas era o de menos pra mim.
Alguns meses depois ela se foi, e fiquei com a recordação daquele único encontro.
Fizeram um filme sobre ela, que virou série. Foi ao ar esta semana, por isso a lembrança! Colocaram cenas novas na série, entrevistas e imagens de algumas pessoas, inclusive suas.
No final. Depois que conta sobre a morte dela. Passaram cenas dela, enquanto era lida aquela carta que você escreveu pra ela. Uma Carta da Mãe, que desta vez foi pra Elis!
Incrível como ela está atual, pai! A pressão sobre as mulheres continua a mesma hoje em dia. Até hoje, não aceitam que uma mulher seja livre, forte e independente! Até hoje, elas têm que trabalhar, cuidar da casa, das crianças e de nós, homens.
Nós idolatramos uma mulher que fala em uma solenidade porque o marido deixou. Mas quando ela é a protagonista, nós a xingamos. Nós jogamos pedra na Geni!
O novo governo pensa exatamente como aquele outro pensava. “Mulher nasce pra ser mãe”, disse a nova ministra. Mulher até hoje não pode ser protagonista!
As que se atrevem a vir aqui pra fora, nós fazemos o que fizemos com a Elis Regina, com a Ângela Diniz, com a Daniela Perez, Marielle e tantas outras...
Tanta gente chorou com a sua carta, pai!
Um beijo do seu filho,
Ivan