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[caption id="attachment_130792" align="alignnone" width="1024"] Foto: Francisco Proner Ramos/Mídia NINJA[/caption]
A esquerda é frequentemente acusada de querer desarmar os homens de bem, não os bandidos. E de se indignar com as mortes destes, mas não dos policiais. É uma das bandeiras do maior símbolo do obscurantismo e da barbárie: Bolsonaro, réu por apologia ao estupro e por crime de injúria racial.
A PM do Rio de Janeiro é a que mais mata e a que mais morre, e o crime aumenta, inclusive agora na Intervenção Federal/ Militar. Os comandos do crime estão superarmados - há que desarmá-los. As polícias estão despreparadas e desequipadas, há que qualificá-las. Presidi a CPI das Armas, na ALERJ: constatamos que, em 10 anos, 24 mil armas foram desviadas de quartéis, delegacias e firmas de segurança privada e transitaram para o crime. Entre as 48 resoluções da CPI estava a recriação da DEFAE - Delegacia de armas e explosivos, desativada por 8 anos. Isto ocorreu e a DESARME (nome atual) atuou na apreensão de 60 fuzis novos no aeroporto do Rio, dentro de aquecedores de piscina. Só que descobriu que outros 30 carregamentos idênticos já haviam passado: 1.800 fuzis modernos vitimando população e policiais, por falta de inteligência e de investigação, sempre cobradas pelas bancadas progressistas.
Cerca de metade dos policiais assassinados o são fora do serviço, no “bico”, geralmente em firmas de segurança privada, a maior parte das quais de coronéis, através de laranjas. Nos bicos, estes PMs não têm apoio de equipes, de armamento pesado e são mais vulneráveis. A escala de 24 horas por 72 horas é feita para embutir o bico, onde o PM ganha mais. É urgente a recomposição salarial e políticas de apoio e prevenção às mortes frequentes e inaceitáveis.
O Regimento Interno da PM é desumano, e permite a prisão administrativa de 30 ou 60 dias por motivo fútil, como camisa sem botão, bota sem cadarço. Em 2002, no breve governo Benedita da Silva, conseguimos extirpar estas medidas inconstitucionais, repostas em 2003 pelo governo Rosinha. Antes, aprovamos a lei 2649/96, que garante o direito de associação não sindical para Bombeiros e PMs. Chamamos a atenção a estes fatos que demonstram a solidariedade das esquerdas às condições de trabalho e de dignidade dos policiais.
A cultura do confronto e do extermínio é antiga. Aprovamos há 20 anos a lei 2993/98, que acabou com a Gratificação Faroeste: Matou mais, ganhou mais. Mas a ideologia do confronto permanece e é estimulada pelos que pregam o extermínio como (falsa) solução.
Recentemente, o Exército ocupou o Complexo da Maré por 1 ano e 4 meses, ao custo de R$ 460 milhões. Com o fim da intervenção, o tráfico voltou com mais força e ampliou seu poder, sufocando também as associações populares. Soluções simplistas são fadadas ao fracasso, o que sequer é analisado criticamente.
A decadência das UPPs não deve ser comemorada, foi um retrocesso tremendo. Apesar das muitas falhas, sobretudo na relação com a população e da falta de programas sociais, o projeto incluía a polícia de proximidade e o desarmamento dos comandos. Enquanto a população apoiou e denunciou os esconderijos de armas, funcionou e os homicídios nestas áreas foram reduzidos em até 80%. Depois do caso Amarildo e da quebra de confiança, combinado com a falência do estado, os PMs ficaram cercados, como em casamatas em território inimigo. Deplorável. Isto deve ser objeto de estudo e reformulação profunda, nunca de sepultar e desconhecer o seu potencial.
Os temas da corrupção e da violência serão decisivos nestas eleições. E as esquerdas, em ambos os casos, ficam muito abaixo de sua capacidade de formulação. Devemos sempre desmontar os discursos maniqueístas e truculentos, resgatar as boas iniciativas e enfrentar de forma fundamentada estes desafios. Numa próxima coluna abordaremos como as esquerdas podem e devem retomar a iniciativa na luta contra a corrupção, e sair da atual situação de defensiva pouco sustentável.