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[caption id="attachment_146928" align="alignnone" width="640"] Fotos: Arquivo Pessoal[/caption]
Fotos de Bolsonaro e do futuro ministro da Casa Civi, Onyx Lorenzoni, cuja angulação e recorte sugerem ao fundo expressões como “anta” ou “traição governa”; vídeo do capitão reformado lavando roupas no tanque; outro vídeo do presidente eleito com a faca na mão em um churrasco debochando do próprio atentado que sofreu. Tudo material distribuído pela assessoria do presidente, pautando a grande mídia e a indignação da esquerda, como matéria-prima para os protestos que acabam virando apenas “metamemes”. Continua em ação uma estratégia muito mais de comunicação do que de propaganda. Uma operação psicológica baseada nos mecanismos de dissonância e ambiguidade diante da qual a esquerda está paralisada e desarmada, incapaz de compreender a linguagem “alt-right”, a ultradireita alternativa, surgida diretamente de sites como o “4chan” (EUA) ou do “Corrupção Brasileira Memes” (CBM, Brasil). Uma linguagem cuja mão de obra criadora é farta: a geração NEET (Not currently engaged in Employment, Education or Training) ou “Nem-Nem”, cuja desesperança e niilismo ganharam expressão política depois de anos de animações politicamente incorretas como Os Simpsons, Beavis and Butt-head, South Park, American Dad e o Rei do Pedaço.
“Por que a ultradireita está ganhando espaço no mundo todo? Porque são metódicos, são militares, têm disciplina. Por que nós da esquerda somos todos fodidos? Porque é todo mundo desorganizado, tudo muito ‘hare hare’ demais”.
(Sabrina Bittencourt, ativista por trás das denúncias do guru Prem Baba e do médium João de Deus, Carta Capital, 26/12/2018)
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Desde que o ator britânico Hugh Grant foi flagrado pela polícia, na famosa Sunset Boulevard, fazendo sexo oral em plena luz do dia com uma prostituta chamada Divine Brown, em uma BMW branca conversível, a gestão de Relações Públicas de crise e de imagem não foi mais a mesma.
Em 1995, Grant estava em Hollywood (graças ao sucesso do filme anterior Quatro Casamentos e um Funeral) para atuar em uma comédia piegas romântica chamada Nove Meses, com Julianne Moore. E a sua famosa foto da ficha policial com ombros retraídos, sorriso tímido e óculos casualmente pendurados na gola da camisa polo foi a “redenção divina” (desculpe o trocadilho...) para Grant em Hollywood – sem arranhão posterior na carreira, criou uma dissonância politicamente incorreta: o britânico fleumático e tímido, ator de comédias românticas, preso por atos obscenos em local público.
A alta audiência do pedido de desculpas ao vivo na TV feito no talk show de Jay Leno fez o programa ultrapassar o “Late Show With David Latterman”, virando a principal atração do gênero nos EUA; a fama do escândalo fez Divine Brown ficar rica e comprar uma mansão em Beverly Hills; e até a então esposa de Hugh Grant, Elizabeth Hurley, virar estrela de cinema, separando-se do ator só em 2000.
Evento proposital ou involuntário, mas a verdade é que a foto do tímido galã britânico fichado pela polícia ao lado da foto de uma prostituta teve dois elementos repercussivos, muito mais do que o escândalo em si: ambiguidade e dissonância.
1995: ainda a tática de ambiguidade e dissonância estava restrito ao Marketing e Relações Públicas
Armas semióticas
Mas isso foi em tempos em que estratégias de Relações Públicas como essas se limitavam ao chamado “marketing de guerrilha” de marcas como Benetton ou táticas do “falem bem, falem mal, mas falem de mim” que impulsionavam carreiras de atores e artistas pop.
Hoje fazem parte do arsenal das armas semióticas das guerras híbridas colocado em prática nas diversas “primaveras” do Leste Europeu, Oriente Médio e Brasil, a partir de 2013. O paradoxal é que a tática de criação de ambiguidades e dissonância não é propriamente uma estratégia de propaganda.
Como afirma o antropólogo Piero Leiner, professor da Universidade Federal de São Carlos/SP e estudioso das estratégias militares, “é muito mais uma estratégia de criptografia e controle de categorias, através de um conjunto de informações dissonantes" – clique aqui.
Desde o início, a campanha de Bolsonaro à presidência foi considerada tosca e amadora, com recursos escassos, uma estética pobre do material de divulgação e dona de um discurso limítrofe, incapaz de articular três frases sem um erro de concordância.
Nunca foi uma campanha clássica de propaganda – sob a aparência de cacos de conceitos ideológicos (meritocracia, Estado Mínimo, menos imposto etc.), a parte da comunicação se resumiu a memes, vlogs, a ridicularização de qualquer um que se opunha e uma postura geral “ensaboada” – provocar, xingar e sair correndo.
Mas, principalmente, provocações que causavam dissonâncias, confundiam a opinião pública e pareciam descoordenados, fazendo os opositores (principalmente a esquerda) reagirem como estivesse diante de uma turba de fascistas hidrófobos, alucinados e cheios de ódio. Mas são disciplinados, cuja tática está fundamentada nas operações psicológicas das estratégias militares da Guerra Híbrida.
Loucos do "Brasil Profundo" ou organizada Operação Psicológica?
“Caneladas” e expressões subliminares
Um exemplo foram as famosas “caneladas” a qual Bolsonaro se referia sobre as supostas divergências de opinião entre ele e as figuras de comando da campanha – p. ex., divergências sobre a questão do 13o salário e a CPMF com o vice General Mourão e o economista Paulo Guedes. Resultado: uma blitzkrieg de ocupação da pauta da grande mídia e da “secada” da esquerda contra seu rival. Enquanto isso, o também suposto programa de governo do candidato era colocado entre parêntesis no debate.
Após a vitória eleitoral e nesse momento de governo de transição, ainda continua a todo vapor a criação de dissonâncias e ambiguidades com o propósito de gerar uma verdadeira cortina de fumaça para a opinião pública.
É o caso das fotos divulgadas pela assessoria de comunicação do futuro governo, feitas durante as reuniões do governo de transição, que criaram mensagens inusitadas que dão margem a duplo sentido. Em pelo menos três imagens, o termo “transição governamental” inscrito no cenário de fundo ganhou novas configurações em fotos com as presenças de Bolsonaro e do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
O recorte das fotos sugere a palavra “anta” atrás de Bolsonaro; e atrás de Onyx, surge “transão” e “traição governa”. Tudo por conta do ângulo tomado pela lente e pelo recorte do plano. O detalhe é que as fotos foram feitas pela própria equipe do governo, em ambiente em que a imprensa não tem acesso.
Imagens que fizeram a delícia da oposição e viralizaram nas redes sociais. Um fotógrafo espera uma carreira inteira para clicar imagens com poder simbólico como essas... Mas a assessoria de comunicação consegue divulgar no atacado fotos que nada mais que ilustram as próprias críticas da oposição: subliminarmente, um fotógrafo denuncia um governo promíscuo, traiçoeiro e liderado por uma anta...
Uma variação dessa estratégia foi a divulgação de um vídeo do “mito” lavando roupa suja no tanque no Natal em Marambaia, RJ.
Ou ainda o vídeo (também divulgado pela assessoria do presidente) em que Bolsonaro, com uma faca na mão em um churrasco, brincando aponta para um dos atendentes e debocha: "Olha aqui. Se eu fizer um corte desse aqui em você, você vai ser presidente da ONU”, disse Bolsonaro aos risos em meio às gargalhadas dos apoiadores ao redor. Provocativamente, o capitão da reserva faz escárnio do próprio atentado que o catapultou à presidência.
Alimentando o inimigo
É como se a estratégia de comunicação do clã Bolsonaro fosse alimentar continuamente a oposição com matéria-prima para memes (como por exemplo, a apropriação da foto de Marambaia em tom laranja para ironizar o Caso Queiroz que “tinge de laranja a posse da presidência”) e para o wishful thinking das esquerdas sobre supostas fissuras internas na equipe do governo ou auto sabotagem subliminar de profissionais na assessoria do presidente.
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