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O problema do Brasil é que o negro tem direito a cotas, o que gera uma enorme desigualdade nas oportunidades. A mulher está “roubando” a vaga do homem e não quer mais cuidar da família. O homossexual está tomando tudo e daqui a pouco o errado vai ser o hétero. O indígena é um vagabundo que ocupa uma terra que poderia ser usada para progredir o país. É assim que pensa o conservador.
Essa é uma estratégia que inventa classificações lógicas, mas que não necessariamente condiz com a realidade. A mentira bem feita, bem estruturada, vale mais que a verdade, que os fatos.
Nenhuma estatística que mostra a exclusão social do negro no acesso à educação, sua maioria nas regiões sem saneamento básico, será suficiente para desmitificar a mentira bem feita. Ainda mais se quem a cria tenha o poder de mistificar a si próprio, como o mito.
Nenhum argumento histórico será suficiente para provar que o índio teve sua terra tomada, sua família estuprada, seus filhos violentados em nome do latifúndio que não trouxe riqueza alguma para o Brasil, apenas tragédia. Se tirar a terra dos indígenas fosse a solução, o Brasil deveria ser o país mais desenvolvido do mundo, não é mesmo?
A mulher, por sua vez, ganhou espaço na sociedade industrial e capitalista porque a lógica dessa sociedade exige a mão de obra feminina. Ou seja, para fazer com que a mulher volte para a cozinha, é necessário regredir ao feudalismo. Mas o eleitor conservador diz que o capitalismo deve estar acima de tudo. O contraditório do contraditório.
Algo parecido acontece com a liberdade sexual. Um partido que carrega a palavra liberal não pode ser homofóbico. A não ser que pense no liberalismo apenas economicamente, contudo, a palavra não se resume à economia, ela se refere às diversas liberdades. Ela revela o espírito iluminista.
O argumento coitadista do homem branco heterossexual é criado pelo politicamente incorreto. Uma forma de colocar incorreto o que sempre foi visto como correto, oficial, dominante. Esse argumento é usado pela direita reacionária que entende que o escravo é culpado pela escravidão, o índio pelo massacre, a mulher pelo estupro, etc. Mas na verdade era justamente o oposto. O incorreto era o negro, o índio, o homossexual, a mulher.
Esse tipo de argumento esdrúxulo exclui as camadas populares e valoriza as elites brancas heterossexuais. Todavia, temos que entender que não há nada de politicamente incorreto, mas de economicamente correto. Ser pobre, no sistema capitalista, é ser ilegal, é estar do lado errado, do lado de quem não consegue consumir o que as indústrias produzem. É uma anomalia, o que deu errado.
Ou seja, o conflito entre o politicamente incorreto e o politicamente correto tem como objetivo esconder o conflito entre o economicamente incorreto e o economicamente correto. Foi assim que a alienação fez com parte dos pobres se tornasse conservador. Eles acham que estão se unindo a quem defende os valores tradicionais, mas na verdade estão do lado dos economicamente corretos que os exploraram por trás do falso moralismo.