MISTÉRIO

Paradoxo de Fermi: entenda o problema que incomoda cientistas há décadas

Diversas hipóteses foram propostas ao longo das últimas décadas para "resolver" o paradoxo sobre a presença de vida extraterrestre, mas nenhuma delas é conclusiva

Ilustração sobre o Paradoxo de Fermi.Créditos: Wikimedia commons
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Em 1950, o físico Enrico Fermi discutia com seus colegas do Laboratório Nacional de Los Alamos sobre relatos de OVNIs e avanços na radioastronomia. Em meio ao debate, conta-se que Fermi perguntou: “Onde está todo mundo?”. O sentido da pergunta, que parece simples, ganhou um desenvolvimento mais complexo.

O que Fermi implicou com a indagação, que se relacionava à presença de outros seres no cosmos para além da Terra, foi que, se o Universo contém bilhões de estrelas mais antigas inclusive do que o Sol (e, portanto, com potencial de abrigar vida há muito mais tempo do que se deu a formação da Terra), por que ainda não nos deparamos com nenhuma manifestação de vida inteligente? 

A explicação, é claro, tem um fundo "simples": porque os planetas que procuramos ou observamos não têm as condições físicas essenciais para fazer surgir espécies não bacterianas.

Mas o Paradoxo de Fermi vai além disso e expressa a tensão entre duas afirmações logicamente incompatíveis: primeiro, a elevada probabilidade (matematicamente demonstrável) da existência de civilizações extraterrestres inteligentes, segundo modelos astrobiológicos; e, depois, a ausência objetiva de qualquer evidência empírica ou de contato com essas possíveis civilizações (ou melhor: civilizações possíveis). 

Essa discrepância se tornou um problema clássico da cosmologia, com implicações que atravessam a física, a biologia e até (por que não?) a filosofia.

Matematicamente falando, estima-se que existam cerca de 200 bilhões de galáxias no universo observável, cada uma com centenas de bilhões de estrelas. Muitos desses sistemas planetários possuem zonas habitáveis, isto é, regiões onde a temperatura permite a existência de água líquida, a condição fundamental para a bioquímica. 

A equação de Drake, formulada em 1961 pelo radioastrônomo Frank Drake, tentou estimar o número de civilizações tecnologicamente avançadas capazes de emitir sinais detectáveis do espaço. E, embora alguns de seus parâmetros ainda sejam incertos (como a fração de vida que pode evoluir até a "inteligência", ou a duração média de uma civilização capaz de se comunicar), mesmo os cenários mais conservadores resultam em dezenas a centenas de civilizações que poderiam coexistir simultaneamente na Via Láctea.

No entanto, nenhum sinal foi captado de maneira inequívoca até agora, apesar de esforços de programas como o SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), que escaneiam o céu em busca de transmissões não naturais. Essa é a base da contradição que o Paradoxo de Fermi expressa.

Diversas hipóteses foram propostas ao longo das últimas décadas para "resolvê-lo", agrupando-se, geralmente, em três categorias: problemas relacionados à detecção, à raridade da vida inteligente e à "autodestruição civilizatória".

Problemas de detecção envolvem a possibilidade de que as civilizações estejam, de fato, emitindo sinais, mas em frequências não monitoradas por nós, ou talvez em padrões que não reconhecemos; ou, ainda, utilizando modos de comunicação não baseados em ondas eletromagnéticas, como os neutrinos (partículas subatômicas e sem carga elétrica) ou formas hipotéticas de física quântica ainda desconhecidas. Além disso, a escala temporal também poderia consistir num obstáculo: civilizações distintas podem emitir sinais apenas por breves períodos antes de mudarem de tecnologia ou até desaparecerem.

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A hipótese da raridade biológica considera que, embora a vida simples possa ser comum, a transição para organismos multicelulares, inteligência autoconsciente e capacidades tecnológicas pode envolver gargalos evolutivos extremamente improváveis. Autores como Nick Bostrom e Robin Hanson discutem o conceito do "Grande Filtro", teoria que sugere que, em algum ponto da cadeia evolutiva, deve haver uma barreira quase intransponível a impedir a evolução da vida. Ela pode estar atrás de nós (o que explicaria nossa solidão) ou à nossa frente. Quer dizer, se o "filtro" já ocorreu, isso significa que nós, como civilização humana, já o superamos; mas, se ainda vai ocorrer, estaríamos caminhando para um evento que pode interromper o nosso desenvolvimento. 

Autodestruição civilizatória

Por fim, a hipótese da autodestruição civilizatória argumenta que civilizações tecnológicas podem ter vida curta, seja devido a guerras nucleares, colapsos ecológicos, pandemias artificiais ou inteligências artificiais incontroláveis (de maneira muito parecida com as ameaças no horizonte do nosso próprio fim enquanto sociedade humana). 

Existem também algumas propostas mais especulativas, como a "hipótese do zoológico", segundo a qual civilizações extraterrestres escolheriam não interagir com a nossa sociedade de maneira proposital. Outras sugerem que civilizações avançadas transcenderiam a materialidade como nós a conhecemos, migrando para formas de existência, por exemplo, puramente digitais. Quem sabe?

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