Pela primeira vez, cientistas da Academia Chinesa de Ciências foram bem-sucedidos na complexa tarefa de criar animais de laboratório cujo DNA é inteiramente "da parte paterna", ou seja, animais filhos de dois pais.
Esse processo, descrito em artigo publicado na revista Cell Stem Cell, foi feito com camundongos, e já havia sido tentado antes, mas sem sucesso. A produção de camundongos com dois pais costumava levar a uma morte prematura desses roedores, logo após o nascimento. Agora, pela primeira vez, os espécimes gerados apenas com o DNA paterno chegaram à vida adulta, através de uma "neutralização" da parte do genoma que poderia ser um empecilho à formação de seu DNA.
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Essa parte neutralizada corresponde à função, no DNA humano, que determina qual genoma usar — o paterno ou o materno —, o processo denominado "imprinting". Durante o imprinting, certas regiões do genoma são modificadas quimicamente de acordo com sua origem parental, e genes são ativados ou desativados dependendo da região de que provêm (do pai ou da mãe).
Sendo bem-sucedidos nesse processo de neutralização, os cientistas, liderados por Zhi-kun Li, após identificar as partes mais afetadas pelo imprinting, conseguiram "neutralizar" pelo menos 20 trechos do genoma que poderiam impossibilitar os embriões de camundongo. Mas algumas continuaram lá, impossíveis de ser identificadas; isso, é claro, fez com que os camundongos estivessem sujeitos a uma expectativa de vida muito menor (até 60% a menos), além de a problemas genéticos mais graves (defeitos de nascimento).
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“A análise fenotípica dos camundongos bipaternos não viáveis revelou anormalidades como excesso de peso, pálpebras abertas, línguas salientes, edema e hérnias umbilicais”, diz o estudo. De acordo com a análise dos cientistas, aqueles genes geralmente expressos pelo DNA paterno foram “superexpressos” nos camundongos com dois pais, o que levou a um “aumento generalizado dos órgãos internos” naqueles que não ‘deram certo’.
Nem todo o trabalho da parte feminina foi eliminado, além disso. Os camundungos foram gerados em óvulos de fêmeas. Para isso, necessitou-se retirar o núcleo de DNA dos óvulos (para que os roedores não carregassem nenhum DNA da "mãe"), e então o espermatozóide foi injetado ali, no óvulo sem núcleo, gerando células cujos cromossomos eram apenas de origem paterna, um de cada pai selecionado.
Esse processo dificilmente poderia ser reproduzido entre humanos, e requer muitos cuidados de manipulação, mas é possível entender melhor, através dele, os papeis exatos da "doação" genômica na formação de um novo DNA, assim como a distribuição entre as funções feminina e masculina.