Três dias antes de sua posse para o segundo mandato presidencial, Donald Trump surpreendeu o mercado de criptomoedas ao lançar a memecoin $Trump durante um evento luxuoso próximo à Casa Branca.
A festa, relata o The New York Times deste sábado (25), repleta de líderes da indústria e marcada por apresentações como a de Snoop Dogg, pretendia celebrar a promessa de Trump de apoiar o setor, mas foi ofuscada pelo anúncio inesperado.
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Valor derretendo
A memecoin $Trump gerou cerca de US$ 58 milhões em taxas para a família Trump em menos de 24 horas, mas a iniciativa levantou críticas dentro e fora do setor.
Inicialmente, o valor da $Trump disparou para US$ 75, mas caiu para US$ 39 em poucos dias. Atualmente, a moeda está avaliada em cerca de US$ 8 bilhões, posicionando-se como a 25ª criptomoeda mais valiosa, segundo o site CoinMarketCap. A equipe de Trump detém 80% das moedas em circulação, levantando dúvidas sobre o impacto de uma eventual venda massiva de participações.
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Preocupações éticas e legais
Especialistas ouvidos pelo jornal estadunidense classificaram o lançamento como uma “manobra para arrecadar dinheiro”, argumentando que Trump prejudicou a credibilidade das criptomoedas em um momento delicado para a indústria, que busca maior aceitação no mercado financeiro tradicional.
Até apoiadores do novo presidente expressaram desconforto. Nic Carter, fundador da Castle Island Ventures, chamou o movimento de "corrupto e voltado para interesses pessoais". Ryan Selkis, outro defensor de Trump na comunidade cripto, afirmou que o episódio prejudicará a administração em termos financeiros e de credibilidade.
Perdas para investidores
A moeda atraiu principalmente investidores inexperientes, segundo análise da Chainalysis, uma empresa de inteligência de blockchain. Embora alguns tenham recuperado o investimento inicial, mais de 100 mil pessoas sofreram prejuízos, especialmente após o valor do token despencar 60% em relação ao pico inicial.
Mesmo após a queda, Trump continuou promovendo a moeda em suas redes sociais, incentivando mais pessoas a comprá-la. Questionado sobre o lançamento, ele minimizou as críticas: "Não sei muito sobre isso."
Acusações de "rug pull"
O lançamento da $Trump levantou suspeitas de um possível "rug pull", prática em que os criadores de um projeto vendem rapidamente suas participações, causando o colapso do preço e deixando investidores no prejuízo.
Apesar de ainda deterem, no papel, US$ 23 bilhões em $Trump, analistas apontam que a família Trump poderia desvalorizar ainda mais a moeda se optasse por liquidar suas participações.
Memecoin $MELANIA
No mesmo dia do lançamento da $Trump, a primeira-dama Melania Trump também lanço a própria criptomoeda, a memecoin $MELANIA. A moeda digital rapidamente alcançou uma capitalização de mercado de aproximadamente US$ 1,5 bilhão, contribuindo para a volatilidade no mercado de criptomoedas.
A moeda, que inicialmente tinha alto valor, caiu de US$ 13 para US$ 2,70, mas ainda mantém uma capitalização de mercado de US$ 700 milhões.
Impacto no setor
A controvérsia destacou os desafios enfrentados pela indústria de criptomoedas, que busca regulamentação e credibilidade. Enquanto o Bitcoin mantém seu status como referência consolidada no mercado, memecoins como a $Trump reforçam a percepção de que o setor ainda é suscetível a especulação extrema e práticas de manipulação.
Ao invés de fortalecer o mercado cripto, o lançamento da memecoin criou uma bolha especulativa que rapidamente perdeu força, prejudicando a confiança de investidores e alimentando críticas contra a administração Trump.
Com o setor já enfrentando escrutínio regulatório, o episódio coloca em xeque a capacidade de Trump de equilibrar interesses políticos e econômicos em meio a promessas de apoio à indústria.
Desafios de regulação
O lançamento da criptomoeda $Trump trouxe à tona desafios significativos na regulamentação do setor de criptoativos e aquece o debate sobre a necessidade de um equilíbrio entre a promoção da inovação e a proteção dos investidores.
A criação de uma memecoin por uma figura política de destaque levanta questões sobre possíveis conflitos de interesse, especialmente quando o emissor está em posição de influenciar políticas que afetam o mercado de criptomoedas.
Além disso, a natureza especulativa e volátil dessas moedas pode expor investidores, particularmente os menos experientes, a riscos financeiros consideráveis.
A falta de regulamentação clara para ativos digitais como as memecoins dificulta a supervisão e a aplicação de medidas de proteção ao consumidor. A ausência de diretrizes específicas permite que figuras públicas lancem criptomoedas sem transparência adequada, potencialmente explorando a confiança de seus seguidores.
A situação destaca a urgência de desenvolver um marco regulatório abrangente que aborde tanto a inovação quanto a integridade do mercado. Isso inclui estabelecer normas para divulgações transparentes, garantir a proteção dos investidores e mitigar riscos sistêmicos associados a ativos digitais emergentes.
O "czar" de Trump para criptomoedas e inteligência artificial
No que depender do responsável nomeado por Trump para conduzir assuntos de criptomoedas e inteligência artificial na Casa Branca, a tendência é de vale tudo.
O empresário e investidor David Sacks, conhecido por seu papel como cofundador do PayPal e fundador da Yammer, é o novo "czar" de Inteligência Artificial e criptomoedas neste segundo mandato de Trump. A função inédita tem como objetivo desenvolver um marco regulatório para o setor de criptoativos e promover a inovação tecnológica nos Estados Unidos.
Sacks, que também é cofundador da Craft Ventures, chega ao cargo com uma visão declaradamente favorável à tecnologia e um ceticismo em relação à regulamentação governamental excessiva. Ele defende a criação de normas claras que permitam à indústria de criptomoedas prosperar, destacando o potencial dos ativos digitais para transformar o sistema financeiro.
Em declarações recentes, Sacks comparou ativos digitais como memecoins e NFTs a "cartões de beisebol ou selos", argumentando que eles devem ser tratados como itens colecionáveis em vez de títulos financeiros. Essa posição contrasta com abordagens mais rígidas adotadas durante a administração anterior, que intensificou o escrutínio sobre criptomoedas e acusou vários projetos de violar regras de valores mobiliários.
A nomeação de Sacks foi recebida com opiniões divididas. Para os defensores de um mercado mais liberal, sua liderança representa uma oportunidade de impulsionar a inovação e atrair mais empresas de tecnologia para os EUA. Por outro lado, críticos levantaram preocupações sobre possíveis conflitos de interesse, dada a atuação de Sacks no setor privado e a ausência de mecanismos tradicionais de supervisão em sua função.
A medida também reflete o compromisso de Trump em reverter o ambiente regulatório da administração Biden, que adotou uma abordagem mais cautelosa e rigorosa em relação às criptomoedas.
Com a missão de equilibrar inovação e proteção ao consumidor, Sacks terá um papel crucial em moldar o futuro do setor, enquanto os EUA buscam se posicionar como líderes globais em tecnologia de blockchain e inteligência artificial.