Uma produtora japonesa de saquês fundada em 1830, Asahi Shuzo, conhecida pela marca de saquês Dassai, planeja produzir o saquê mais raro do mundo, vindo diretamente do espaço.
Ou melhor, da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), um laboratório espacial lançado em 1988 e concluído em 2011, com a colaboração com quatro agências espaciais: a Nasa, agência norte-americana, a russa Roscosmos, a europeia ESA, a japonesa JAXA e a canadense CSA.
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A Estação Espacial que orbita a Terra é palco de importantes experimentos com microgravidade, e a Asahi Shuzo quer produzir ali o primeiro saquê "espacial", inteiramente fermentado fora da Terra.
Isso é uma tarefa um tanto complicada, dado que há diferenças substanciais entre as condições físicas necessárias para a fermentação na Terra e no espaço. Uma delas é o padrão de transferência de calor entre fluidos, afetado pela diferença de gravidade, o que pode gerar um resultado completamente diferente daquele avistado na Terra. E, quem sabe, mais interessante.
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A fermentação do saquê depende de processos complexos e em certa medida delicados, que se iniciam com o "polimento" do grão de arroz, responsável por remover os farelos e isolar o núcleo mais rico em amido — em que se utiliza um arroz específico para saquês ao invés do tradicional.
Depois, o arroz é lavado, deixado de molho e finalmente cozido no vapor para facilitar a quebra do amido. O arroz cozido é misturada a um fungo chamado de "koji", que deve ajudar o amido a se transformar em açúcar fermentável — esse processo dura até 72 horas. O novo tipo de arroz koji é, então, sujeito a uma "fermentação múltipla paralela", em que é transformado em açúcar e, em seguida, em álcool, em função das leveduras. Isso pode levar 32 dias, a depender do tipo de saquê, que é, ao fim, prensado, filtrado e pasteurizado até tornar-se próprio para consumo.
Ele ainda pode ser armazenado por alguns meses para atingir sabores mais suaves e equilibrados.
O projeto da Asahi Shuzo em parceria com a Agência de Exploração Aeroespacial japonesa vai permitir o acesso ao módulo Kibo, que pertence ao Japão, e possibilitar testes prévios em um "ambiente especial de microgravidade", informa a CNN. Ele foi pago de maneira privada.
Espera-se que os ingredientes para a fermentação do saquê sejam enviados ao espaço através de um foguete no segundo semestre de 2025, em cooperação entre a Mitsubishi Heavy Industries e o Centro de Indústria e Tecnologia Científica de Aichi, e a produção inicial deve ser de uma garrafa de 100 mililitros.
O responsável pelo projeto, Souya Uetsuki, pretende entender como funciona o processo de fermentação no espaço, a fim de que, futuramente, quando os humanos puderem "viajar livremente entre a lua e a Terra", alguns turistas possam apreciar o saquê espacial e até outros alimentos fermentados, como o missô (pasta de soja fermentada, tradicional na cozinha asiática).
Mas o saquê, se vingasse, custaria caro: uma única garrafa poderia chegar a US$ 659.000 aqui na Terra.
Após o processo de fermentação, que será coordenado por um astronauta, responsável por misturar os ingredientes com a água da infusão, cerca de 520 gramas do fermentado devem ser congelados e trazidos de volta à terra para serem prensados e transformados em bebida.
O saquê já tem, inclusive, um nome: "Dassai - Moon Space Brew".