Em investigações policiais, é comum que as vítimas descrevem fisicamente os suspeitos para que um "retrato falado" seja feito. Contudo, uma nova tecnologia pode trazer técnicas inovadoras e fazer com que a descrição das vítimas seja desnecessária.
A Parabon Nanolabs é uma empresa norte-americana fundada com dinheiro público. Ela desenvolve técnicas, às vezes polêmicas, para solucionar crimes e auxiliar nos trabalhos de inteligência. Uma de suas tecnologias une inteligência artificial a dados presentes no DNA humano para obter características fenotípicas dos suspeitos, ou seja, a aparência deles.
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Versão brasileira
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Polícia Federal (PF) trabalham desde janeiro deste ano em um projeto com a mesma tecnologia para o contexto brasileiro.
A geneticista Clarice Alho, que coordena o projeto, explica que os bancos de dados internacionais não são adequados às características do Brasil, que é um país marcado pela miscigenação. A pesquisa pretende reunir um banco com mil voluntários. Atualmente, eles contam com 500 voluntários, todos do Rio Grande do Sul.
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Contudo, a técnica é polêmica. Há diversas características que escapam "aos olhos" da combinação entre DNA e IA. Genes não são capazes de determinar a idade, peso e várias características adquiridas ao longo da vida, como cicatrizes e tatuagens.
Além disso, é possível que a tecnologia reproduza preconceitos e estereótipos. "Quem opera e quem programa essas coisas [AI] são humanos. Não me surpreenderia se, se passássemos a usar esse tipo de tecnologia, ela tivessse um resultado muito parecido com que já é a clientela do sistema de Justiça Criminal: pobre, homem, jovem, negro, basicamente", disse o sociólogo Acácio Augusto, da Universidade Federal de São Paulo ao portal Uol.
Uso de material genético
A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) disse em nota que o uso de material genético, atualmente, não é usado para definir características fenotípicas.
"Por lei, o DNA forense deve ser apenas para fins criminais, com raras exceções de uso para definição de características externas, como restos mortais ou pessoas desaparecidas. Cabe esclarecer, ainda, que o projeto citado na reportagem está em desacordo com a legislação pátria e desrespeita princípios fundamentais de direitos humanos. Além disso, não tem relação com a perícia criminal da Polícia Federal, única categoria da instituição responsável pela análise forense de perfis genéticos", diz a nota.
*Com informações do UOL