O candidato bolsonarista Marciano Perondi (PL), que disputa o segundo turno das eleições para prefeito em Pelotas, no Rio Grande do Sul, foi acusado de racismo e intolerância religiosa após pisar sobre um símbolo importante para religiões de matriz africana, localizado no Mercado Público da cidade.
A denúncia foi feita pelo batuqueiro André de Ogã em vídeo publicado nas redes sociais, em que mostra uma foto de Perondi pisando no símbolo do Orixá Bará. André também afirma que os assessores do candidato retiraram as proteções que ficam em volta do símbolo.
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Nas redes sociais, Perondi gravou um vídeo com a presença de três representantes da Umbanda para defender que estariam "politizando a fé" e que a denúncia teria sido feita por um "desespero" de seus opositores. Ele diz que tinha ido conversar com uma pessoa que o abordou e que não havia marcação no local, e por isso acabou pisando em cima do símbolo. Em nenhum momento, porém, o candidato pede desculpa pelo ato desrespeitoso.
Em manifestação contra a atitude de Perondi, religiosos de matriz africana organizaram um ato no local, na tarde desta sexta-feira (25), convocado pelo presidente do Conselho Municipal do Povo Terreiro, Rodrigo do Bará. “Chamo o povo para pegar o seu tambor e vim pra cá, porque esse espaço é nosso, é da população, esse espaço é público e nós vamos movimentar o mercado como de fato o mercado merece ser movimentado pelo povo negro, pelo povo africano, pelo povo batuqueiro dessa cidade", declarou.
Ele ainda acrescentou que “ninguém vai pisar em cima, nenhum candidato, nenhum ser humano vivo vai pisar em cima e ficar sem o respaldo do Conselho Municipal do Povo Terreiro e do povo batuqueiro dessa cidade”.
Por fim, Rodrigo classificou o ato de Perondi como racismo e intolerância religiosa. “Nós vamos tomar as devidas providências quanto a esse ato de intolerância e de racismo cometido pelo candidato Marciano Perondi dentro de um espaço público".
O Babalorixá Juliano de Oxum, ex-presidente do Conselho do Povo de Terreiro e idealizador da demarcação, também se manifestou sobre a atitude do candidato, e reforçou que o ato no local não foi partidário.
"Ato pela nossa ancestralidade"
“O ato que nós fizemos ali no mercado não foi tirando para o lado do A ou B, partido do A ou B. Nós fizemos política pública para o povo de terreiro. Nós fizemos um ato pela nossa ancestralidade”, disse.“É uma afronta retirar o redutor de velocidade do retorno, que não se retira, se está o retorno já para proteger o adesivo, tendo em vista que o adesivo não é o poder público, não é ninguém que paga, sou eu, pai Juliano de Oxum, sou eu que pago", acrescentou.
A Comissão de Igualdade Racial da Subseção de Pelotas também publicou uma nota de repúdio, em que afirmou que "o fato, grave, configura violação a direitos das religiões de matriz africana". Eles também informaram que a presidente e o vice-presidente da Comissão foram procurados por representantes da sociedade civil organizada, e que acompanharam a lavratura da ocorrência policial.
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