CRIME NA TRIBUNA

Vereador bolsonarista do RS reforça xenofobia ao se explicar sobre ataque a "baianos"

Ao tentar justificar o ataque aos nordestinos, Fantinel se referiu ainda a mineiros e cariocas e usou um clichê para dizer que "não tem nada contra os baianos".

Sandro Fantinel com Jair Bolsonaro.Créditos: Facebook
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Alvo de diversas ações, que podem resultar inclusive em sua prisão, após destilar ódio contra nordestinos ao comentar a libertação de 207 trabalhadores - a maioria da Bahia - que viviam em regima análogo à escravidão para trabalhar nas vínicolas Salton, Aurora e Garibaldi, em Bento Gonçalves, o vereador bolsonarista Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias do Sul, reforçou o tom xenofóbico.

Em entrevista a Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, Fantinel disse que usou o termo "baianos" para se referir aos trabalhadores porque "foi com os baianos" e reforçou a aversão à população de outros estados, falando de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

"Eu toquei no nome dos baianos porque o processo que está correndo em Bento Gonçalves foi com os baianos. Porque se tivesse sido com os mineiros, eu teria falado sobre mineiros. Se tivesse sido com os cariocas, eu teria falado dos cariocas", afirmou.

Em seguida, ele usa um clichê de xenófobos para dizer que "não tem nada contra os baianos".

"Não tenho nada contra os baianos, pelo contrário. Estive nas praias de lá, é maravilhoso", emendou Fantinel, que justificou o ataque dizendo que era apenas um alerta aos produtores da região no caso de trabalhadores alegarem más condições de trabalho "apenas para receber uma indenização". "Não é o caso de Bento Gonçalves, ali estava exagerado".

PROCESSOS

Nesta quarta-feira (1º), a Educafro e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos vão entrar com uma ação civil contra o vereador. As organizações vão pedir indenização por danos morais coletivos e a condenação do parlamentar para obrigá-lo a frequentar aulas de igualdade e combate à discriminação.

O discurso xenofóbico do bolsonarista foi exposto nas redes pelo deputado estadual Leonel Radde (PT-RS), que registrou boletim de ocorrência.

O PSOL do Rio Grande do Sul anunciou que vai entrar com um pedido de prisão do vereador no Ministério Público com base na lei 7716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A legenda ainda entrará com uma ação na Câmara de Caxias do Sul solicitando a cassação do bolsonarista.  

Na noite desta terça-feira, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), classificou a declaração de Fantinel como "nojenta" e disse que os nordestinos são bem vindos no estado. 

"O discurso xenófobo e nojento de vereador de Caxias contra o nordeste não representa o povo do Rio Grande do Sul. Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e na sociedade. Os gaúchos estão de braços abertos para todos, sempre", escreveu Leite nas redes sociais. 

TRABALHO ESCRAVO

Na noite da última quarta-feira (22), uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 207 trabalhadores em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

A operação se deu após denúncia feita por três trabalhadores que conseguiram fugir do local e contatar a PRF. Os trabalhadores, que foram aliciados, principalmente, na Bahia, sob a promessa de salário de R$ 3 mil, relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho, oferta de alimentos estragados, alojamento insalubre e cárcere privado. 

Na ação da semana passada, a PF prendeu um empresário baiano responsável pela empresa. Ele foi encaminhado para um presídio de Bento Gonçalves e solto após pagamento de fiança. 

Segundo a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho e Emprego, a empresa Oliveira & Santana, que mantinha os trabalhadores em condição análoga à escravidão, possuía contratos com vinícolas famosas da região, entre elas a Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em que fornecia mão de obra para a colheita de uva. 

As três empresas alegam que não tinham conhecimento das irregularidades praticadas pela terceirizada com a qual tinham parceria. O Ministério do Trabalho e Emprego, entretanto, já avisou que elas podem ser responsabilizadas pelo pagamento dos direitos trabalhistas caso estes não sejam quitados pela terceirizada. As vinícolas devem, ainda, responder criminalmente pelo fato.